tag:blogger.com,1999:blog-59644122098225188672024-03-14T05:10:11.973-03:00O CronistaO Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.comBlogger63125tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-84268064563329979432012-05-13T17:08:00.000-03:002012-05-13T17:08:12.412-03:00Dia Das Mães.Hoje é 13 de Maio. Eu adoro esse número: 13 - pois eu queria ser apenas um número. Eu - que reduzo apenas à um nome. Então, o meu segredo é 13. Pronunciarei o 13 como uma prece, só assim Deus virá a meu encontro. Deus, vinde a mim.<br />
Hoje é 13 de Maio. Dia das Mães. Tão frio como uma ausência que os sinos badalam em meu corpo - é assim este domingo. Eu, na minha natureza de homem que sou, sinto-me capaz de abrigar todo o Mundo em meu ventre - como uma mãe que sempre está a espera do filho que nunca chega em casa na hora certa. Sou mãe de mim mesmo, sou mãe daqueles que eu adoro. O segredo de uma mãe é sussurrar o 13 aos ouvidos do filho que dorme. Assim como eu: que boto esse Mundo na cama, conto-lhe histórias, troco-lhe os curativos, dou-lhe leite e cafuné. Também choro um pouco quando me encontro só, parado à janela, olhando as coisas caminhando de lá para cá sem virem até mim. Mas, confesso que sou paciente: como uma búfala, que é bruta, que também pode ser delicada em sua espera.<br />
Eu, na verdade absolutamente masculina de minha natureza, sinto a necessidade de me encarcerar na mágica da embriaguez, pois que com o deleito sofrido eu sinto o que é ser mãe. E quando a noite cair, meu filho gritará:<br />
- Mas mãe, a noite me é tão escura!<br />
- Pois sim, meu filho!<br />
Dai-me tua mão. Pois Deus também precisou dar sua mão à mim. Pois o meu segredo é 13.<br />
<br />O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-76111373054913903322012-05-10T14:26:00.000-03:002012-05-10T14:26:21.386-03:00Ceci n'est pas une pipe.É, sim! - Uma travessia extremamente arriscada. É possível observar os corpos se retorcendo em equilíbrio, as mãos se agitando no ar, o rosto suado - difícil se manter parado, com os olhos cegos, sentindo os pés nus vacilarem a meio fio; pois, eles poderiam levantar suas mãos e então voar, alçar voo para terras não descritas pelos marujos que se perderam há milhares de anos por mares inexistentes; ah sim! - aqueles homens, de braços bronzeados - estes dai só sabem mesmo é fingir!<br />
- Vamos rumo ao sul! - grita o comandante.<br />
Mas a espada não está afiada a ponto de que todos os tripulantes perfurem em fúria a rosa dos ventos; enquanto o sol vai chovendo sobre as cabeças, as águas do mar se mordem em espumas...<br />
... mas, por um instante, ele para na praça pública e observa a grande estátua emergir ao centro, com o escuro da noite se espargindo em todos os cantos; a estátua também é pública enquanto todos os olhos a tocarem em seus cílios de barata velha; ele se aproxima com dificuldade, sentindo que a sua respiração era extremamente dificultada por aquela acidez de gengibre que roça toda a boca; as sinuosidades, os traços incertos, tudo parecia um terrível engano; a estátua era apenas cega;<br />
mas ele jamais poderia fazer algo enquanto visse o carro partindo, enquanto o asfalto sustentasse aquela leveza com que o pneu do automóvel sibilava aquela canção acinzentada; cada vez mais tudo se tornava tão distante, ele observava aquele cabelo cheirando a amêndoa partindo para algo que nunca lhe pertenceria - sim, com modo ele deveria se entregar a eternidade? Pois, ele nunca possuiría aquela coisa mole que lhe escorregava dos dedos e que era tão transparente que enxergava os próprios pés encardidos... é assim que ele jamais viveria, pois,<br />
um dia, vivendo de extremos riscos, ele caiu para o Nada quando o fio que o sustentava se partiu; foi assim que seu barco naufragou quando a primeira onda lhe abateu; a estátua lhe enfiou uma espada no seu estômago; o carro despencou no horizonte;<br />
o que seria daquele homem, meu Deus?O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-65521344606840326342012-04-02T09:18:00.004-03:002012-04-02T09:22:29.141-03:00Queria ser uma coisa linda.Quando as estrelas caíram no céu e os grilos afinaram suas canções, eu disse: queria ser uma coisa linda! <div>Lindo somente é toda essa eternidade, esse vento, essas árvores. Esse vitral que se forma ao chão quando o sol trespassa as folhas das árvores. </div><div>Queria ser uma coisa linda! </div><div>Meu Deus. </div><div>Seria preciso a Morte vir - essa mão solitária e fria que nos acaricia e nos conforta. Seria preciso que a Morte me ninasse em seus braços e nos meus ouvidos soprasse sua melodia incerta. O que eu diria: queria ser uma coisa linda!</div><div>Lindo mesmo é o findar do sol entre as montanhas. </div><div>Lindo mesmo seria dormir sobre teu colo e nunca mais acordar...</div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-61530639897443134272012-02-29T12:16:00.001-03:002012-02-29T12:18:50.379-03:00Papillons<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Nuvens que vagam no céu a pastar... <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">E eu, o que faço de mim? <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Vejo este rebanho ruminando seus sonhos;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Vejo este sol que chove sobre os campos;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Vejo os lírios que desabrocham o silêncio;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">E eu, o que faço de mim?<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Penso que não há o que fazer.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">O certo é se deitar na relva fresca;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Certo é ver esse mar correndo;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">As ondas se dobrando em espumas;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Finjo que faço e não sou;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Eu minto – assim eu me salvo;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">De quê?<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">De mim – que sou uma canção desafinada;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">De mim – que se apodrece no Tempo;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">De mim – que as lágrimas deslizam como víbora;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">De mim – pour quoi? <span lang="EN-US">Mon dieu!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i><span lang="EN-US">Mon amour pour toi<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i><span lang="EN-US">Mon chanson est triste…<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i><span lang="EN-US"><o:p> </o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><span lang="EN-US">O que devo fazer? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Vou abrir um livro de poemas<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Ao pé de uma árvore<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">E assim desalinharei toda minha sorte<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Em rimas e estrofes <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Que eu não vejo entre as palavras...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Devo atravessar a barreira do som?<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Devo ser o que sou?<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Mas o que sou afinal?<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i>Je suis votre corps,<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i>Je suis l’amour corronder votre âme.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Nuvens que vagam no céu a pastar...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">E eu, e eu, e eu?<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><i>Et moi?<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Fico apenas a esperar...<o:p></o:p></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-69220979244499301302012-02-23T13:11:00.000-02:002012-02-23T13:12:17.378-02:00Que se parece uma onda...<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"> O vento suspirou. As franjas do alvorecer repousaram sobre o campo...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Um homem não pode deixar de se enganar pela sua visão; um homem, na verdade, não pode deixar-se trair pelos próprios sentidos – estava parecendo um tolo – devemos perdoar este lapso de Orlando, que ainda despertava, mas fumava seu cigarro? Um homem, ao despertar, é tão vulnerável como um recém-nascido – devemos desculpá-lo – porém, a Natureza é implacável. Orlando lançou seu olhar pelo campo; mal a névoa se dissipara, as árvores do pomar se mesclavam em borrões sutis ao céu azulado – as folhas farfalhavam como uma pena que esvoaça delicadamente sobre as nuvens esbranquiçadas e que abraçam as vacas que ruminam na eternidade; o vento se insinua levantando as saias – que força! exclama a velha dona Alice, que estende a roupa no varal; nossos olhos se abrem e assim a Natureza nos afaga – francamente, a vida parece existir somente quando a encaramos – e se morrermos, a vida será uma mentira. <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Mas agora Orlando se traíra demais – observava um pé de laranja se esclarecendo cada vez mais que o sol avançava e ele teve a nítida impressão que a árvore murmurava – assim ele se permitiu se sentir um pouco idiota ; - falamos de árvores, de sombras e névoas – um cão ladra incansavelmente – mas tudo isso é inútil. Tudo existe de si para si – nada escapa à solidão; ah! mas é que tudo parecia espuma flutuando... Orlando, que se parecia uma onda; Orlando, que se parecia um caracol se dourando enroladamente nos primeiros raios do alvorecer;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">um homem não deve se submeter às suas paixões – assim Orlando se voltou para janela, cada vez mais consciente de si, ficando cada vez mais vigilante, atento aos móveis que estalavam ao seu redor, levando a mão ao peito, sentindo que um vento morno inflava as cortinas da janela; o tempo avançava, as vacas mugiam e a roupa secava no varal; devemos dizer, sem romantismo, que Orlando aos pouco deixava-se abstrair por uma onda que atravessava seu corpo e o arremessava para outro plano – sentia-se prestes a se rasgar como um papel – assim como devemos ser francos ao assumir que o homem parece um imbecil quando deixa-se escravizar pelo mistério; sim, devemos dizer que é o mistério que nos submete à humilhação e que nos inquieta diante de uma janela enquanto ficamos apenas observando a vida permanecer extática diante de nossos olhos; nós nos obrigamos a nos empurrar para darmos pequenos passos, ainda mais quando tudo parece inconquistável e quando o mistério se desdobra cada vez mais em gestos imprecisos; às vezes, porém, tudo pode ficar mais suportável quando dona Alice traz um bolo com chá; ou quando se abre um livro e nos deixamos surpreender por algumas palavras bem escritas; Orlando, que se parecia com uma onda – e que agora naufragava carregando consigo palavras jamais pronunciadas, mas que ele conhecia de cor... quem diria que um jovem como Orlando poderia fenecer em plena luz do dia? oh!, que Deus o perdoe dos seus enganos, Orlando fumava, mas ainda era um broto! Orlando, com o nome curvo e redondo rolando num papel em branco, meu Deus, Orlando é um esboço, algo inacabado; Orlando se deita como uma sombra – porém, suspeita-se que tudo isso seja perda de tempo e não queremos irritar nosso leitor de impaciência; mas o que se deve dizer de um homem que cede a primeira tentação do dia? que não se deixe enganar, caro leitor, mas a Natureza é um embuste e uma montanha pode ser uma promessa arrojada de um amor infértil; o que parecia necessário, no entanto, era desertar – um barco que escorrega ao longe, lá no horizonte, pressente-se um ponto final na incansável busca... – no entanto, deve-se perguntar: o que se busca afinal? um marinheiro já sabe que a terra é redonda... busca-se talvez por novas terras, por civilizações selvagens, por tesouros... ainda assim, haverá a insatisfação, ainda haverá aquele buraco imenso e vazio que nos afasta cada vez mais dos nossos sonhos; porém, Orlando permanece inalterado como uma estátua; aproxime-se, caro leitor, e então acharás que o nosso amigo estará sem vida; no entanto, suspeita-se de que aja uma vida tão intensa dentro de si que, se pudesse extravasá-la de alguma forma, toda a raça humana seria dizimada por seu terrível impacto; diante de tudo isso, nos espantamos de tal maneira que chegamos a nos convencer de que tudo isso não se passa de um exagero; podemos apontar o calor como sendo a causa desses delírios, mas é impossível determinar com clareza. Mas é claro, não devemos supor que tudo estivesse mais claro do que um sol tampado por nuvens; mas, como foi dito, a Natureza é uma mentira, não devemos confiar inteiramente na realidade que ela nos entrega; no entanto, consistimos da mesma matéria insossa dessa Natureza falaciosa que nos entrega de mão cheia as suas paixões; somos apenas as suas paixões; somos apenas crianças à mercê de nossa curiosidade e inocência; nossa naturalidade nos permite que deixemos nos entregar as coisas um pouco às cegas, mas não importa, nossa ingenuidade também é uma forma de amar; amor se desdobra em inúmeras faces e sempre nos assustamos com sua brutalidade; oh, meu filho, mas que não se espante, pois a vida é assim mesmo! esta inabilidade de empunhar nossa própria espada, esta hesitação de ir adiante; o que nós deveremos fazer? há aquelas que se despem diante do Nada e diante do Nada diz: “Sou Teu”; uma cruz se eleva e o que se é passa a não ser mais; cabeças se levantam e olhos apenas assistem um corpo sendo estilhaçado ferozmente sobre esta luz parca que recobre nossa consciência e que nos apavora; mas, esse silêncio, nos unimos ao mesmo ritual; em silêncio, nós compactuamos do mesmo sacrifício;<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">foi assim que, um dia, provido de uma inspiração calorosa, Orlando esqueceu seu passado, entregou-se ao futuro – mas o presente lhe aquiesceu – e assim passou a se chamar Orlando – pois ainda era preciso que o reconhecesse por um nome – talvez esse nome fosse um pouco pomposo para alguém que sofre de asma; porém, ele era bem consciente de que não se transformaria em mulher de um dia para o outro, o que lhe deixava bem feliz e tranquilo; (... mas os fatos são como pedras esparsas num imenso deserto; se juntássemos todas essas pedras e com elas formássemos um círculo coeso e concêntricos, poderíamos ter a sensação palpável da realidade; mas o Tempo é um senhor imperdoável em seu orgulho; em sua ira, ele lança as pedras aos brejos e tudo rola rola rola pela eternidade...); o que é curioso notar é que Orlando parecia ter duas faces o que lhe conferia, obviamente, uma dualidade, porém claramente masculina e feminina (e aqui, caro leitor, devemos esquecer de Virgínai Woolf...), pois ora ele era frio e orgulhoso, como quem avança com uma espada com a ânsia de quem tem sede de sangue, ora ele parecia fértil em sua delicadeza, sensível como um ovo – fosse o que fosse, era preciso que o carregassem constantemente e, dessa forma, o abraçassem e lhe dessem um pouco de cafuné; era assim que estava sujeito ao fracasso – “um homem não deve se entregar às suas paixões” – ah! e como dona Alice ria do pobre rapaz, incapaz até mesmo de matar uma mosca – covarde! covarde! covarde! – que se sujeitava ao amor de forma tão ingênua; ah! mas o amor...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">... esse longo túnel de sombras – Orlando se abstraía na janela – essa longa travessia onde vozes ecoam numa polifonia fantasmagórica; essas vozes encarceradas no balaio do Tempo, esperando que a estação certa os amadureçam e que assim nasçam para a eternidade; aguardam que a chuva venha para os amansar da impaciência da vida; mas não é assim, o Tempo é implacável, algumas sementes perecem no caminho, Orlando se estilhaça, fica a farrapos, mas aos poucos vai juntando o que lhe resta, projeta-se para outras veredas – uma senhora lhe diz: “é assim mesmo, meu filho” e, quando ela sorri, Orlando se horroriza com aqueles dentes podres – “sim, sim, sim, pois é assim mesmo!” – esse grito que se dá no esgar da dor de dente – essa língua morna e mole que se move debilmente – ou tudo seria aceitável, tudo seria como atirar pedras ao mar – vê-se uma sombra se afundando pelas profundezas – balões que se ascendem ao toque de uma mão pequena e macia – ou quando uns olhos se esbarram aos nossos e as ondas se esparramam em cascatas; Orlando, que se esvai no silêncio, enquanto que do outro lado alguém carrega as malas; por piedade esse alguém observa Orlando de dobrando na superfície do mar – o que é preciso dizer? Fazer? – por piedade é que esse alguém se mantém na ignorância, torna-se indiferente e pega o primeiro táxi que se vê; e assim, como um círculo vicioso, novas sementes são deixadas ao acaso até que se caminha muito; acelera-se o passo, vai se aproximando do horizonte, e aquelas sementes repousam sobre o esquecimento, sobre a indiferença – esquecer é um estado da eternidade – dona Alice rindo às gargalhadas: “Seja homem!” e então recebe um tabefe na cara; por quê tudo isso meu Deus? pergunta-se porque no fundo de tudo ele sabe que as coisas estão sendo visivelmente claras, mas que o seu gesto é de covardia... covardia? – pois o que é que se deve amar afinal? – pergunta errada, diz dona Alice; o quê? o quê? o quê? – insiste Orlando; o tempo se enferruja dentro de você; como podemos amar aquilo que não se ama? – que as janelas se abram pois preciso de inundações! Que minhas águas se desaguem para o mar – o mar que encolhe numa gruta! – as laranjeiras, as macieiras, os limoeiros, os abacateiros, as ameixeiras – essas explodem em exuberância – deixo que eu me encerre dentro de meu corpo – que os pássaros, de quando em quando, venham fazer uma canção; as engrenagens do grande relógio avançam trepidando, estalando; um leve rumor agita o silêncio e um grande pássaro de pelugem branca alça voo e mergulha no horizonte; as ondas vibram no seu refluxo constante; o dia recua com fraqueza; como o mar parecesse se apagar... assim como a velha, Orlando não sabe amar! Orlando, Orlando que se joga no mar... que deixa o ar faltar... Orlando, que se parece uma onda...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify"><o:p> </o:p></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-85649693106433046272012-02-15T19:45:00.000-02:002012-02-15T19:46:19.531-02:00(era um amor que exigia inundações)<p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Era um amor que exigia inundações. Mas abundância não era o adjetivo correto para aqueles tempos difíceis – onde a seca, a estiagem, tornava tudo muito lúgubre, passível a se deteriorar na terra rachada. Porém, eles se uniam para as grandes escavações que um se entregava ao outro, fazendo assim de suas vidas um itinerário sacro, quase como uma promessa – essa mesma, a de grandes conquistas, de atravessar túneis escuramente empoeirados – de perceber encrustado nessas paredes de argila as folhas e flores de anos fossilizados – marcas, nódoas borradas – o osso de um primata – esse amor macerado pela escuridão – pois estavam prestes a se unir pela desunião que o acaso se compromete – o acaso... essa palavra que se ergue como uma visão, apenas – ninguém o olha inteiramente...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Eles poderiam não se submeter a todo esse turbilhão que segue o ritmo das ondas – que desabrocha como um suspiro – vai e vem em oscilações brandas – e quando eles se sentavam na praia e o rumor da vida se agita ao seu redor, tudo parece se derreter – nada poderia ser mais sincero do que aquele amor que bramia aos esvoaçar de asas e quando os olhos de ambos apenas viam uma pequena pena azulada se perder para sempre nas ondas do mar – mas ela que, por capricho, prendia entre os cachos uma folha de coqueiro e tudo se enroscava em incompreensão e desaviso, aquela solidão fiada em sombras refrescantes – ela abria os olhos e não falava nada.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Nós nos desdobramos em mistérios, abrimos as portas e deixamos que o vento entre com sua mansidão esverdeada – ela poderia abrir o seu corpo e fazer dos seus nervos como cordas tensionadas de uma harpa prestes a ser tangida, onde a música se desfaleceria em segredos sussurrados – de alguma forma, ela sempre estivera pronta ao desencontro, por mais que entre eles houvesse aquela comunhão perfeita, onde as notas de um órgão se harmonizam perfeitamente ao coro de vozes que sublimam o salmo antes de a missa se iniciar; mas deve-se perdoar todos os tipos de lapsos que os sentidos podem cometer, pois somos presas fáceis de um mundo que se ergue através de cores e formas; ele, por exemplo, parecia insistir sempre nas mesmas notas avulsas, onde as palavras em branco parecem transmitir sempre as mesmas mensagens; ele, que seria capaz de subir ao topo de uma montanha e lançar-se apenas por uma brincadeira infantil; os pássaros parecem rajadas de prata ferindo o céu que vaza espumas brancas; eles se debruçam na praia, sentem a areia roçando-lhes o corpo, mas aquele gosto de sal apodrecendo na boca, se cristalizando nos dentes – aquela sensação gélida e esverdeada correndo moroso por cada artéria do corpo, querendo trespassar a pele em pequenos cristais transparentes, sente-se que o coração é volátil, sensível a uma queda brusca de pressão; sente-se essa mão que aperta o peito e nos deixa intranquilos, de modo que olhamos para o alto e as gaivotas são bruscas e sérias, estúpidas, com suas penas azuladamente foscas; eles sabiam que precisavam colocar a lente certa para poder enxergar através de suas pupilas um novo mundo – com esta insustentável paz, inflando-se através das cortinas e das ondas, onde as moscas zunem ao redor da comida apodrecendo, nas horas que se transfiguram impalpáveis como contas de vidro – até que se amadurecem e se despencam em cachos no chão; vê-se a polpa molemente se desfazendo, sendo sorvida pela terra úmida, eles apenas assistem absortos a dança que se faz sem compasso até que a terra se fecunda em brotos do passado...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">Eles sabiam também que aquele sentimento incerto que os uniam em laços exigiam peregrinações em trilhas desconhecidas, onde as sombras se deitam, onde os espinhos se levantam – seriam mártires apenas de si mesmos; cegos, inconscientes, mas deixando que a lassidão os dominasse por puro prazer do cansaço – mas sem jamais desistirem desta luta inglória, onde de suas raízes nasceriam cutículas de lágrimas mortas; alguém, um dia, acenderá uma vela para que o músico cante sua melodia dissonante, e eles marcharam em passos pequenos, tímidos, arrastados – assim como, dentro da noite, eles eram jogados para dentro de si com tal brutalidade que um ônibus atravessava-lhes o peito e os arremessavam para tempos jamais descritos por homem algum; mas desbravavam a desordem, estendiam-se em campos largos e frescos, podiam sentir o mar se dobrando sobre seus pés e sinos de prata alçavam vôo para terras ermas, desconexos da realidade em que olhos orbitavam cansados da eternidade; mas, pela fé, assim como pela ignorância de serem algo que não pertencem a alguma classe de heróis, eles se debruçavam diante de um santuário e como sacrifício eles jamais se tocariam; sentiam suas mãos cada vez mais se afastando, esse nó que os atava arrebentando pelo vácuo maculado pelo sangue; abre-se um poço imenso, joga-se dentro dele, assim vai-se rolando ao longo do tempo, algo vai se formando, vai se lapidando, vai se fazendo por si só, solitariamente, em caminhos escarpados, difíceis de serem ultrapassados pela inconsciência; assim era aquele amor que não se tocava em palavras claras, por cores neutras, por manchas apenas – borrões, marcas desbotadas, notas insistentes no piano – pega-se um livro, lê-se alguns parágrafos, mas a imagem continua ali: estática, viva, imoral; fecha-se as janelas, espantam-se as pombas da varanda; mas eles pegam rotas distintas, numa corrida onde uma flecha certeira poderia atravessar para sempre toda a eternidade das coisas e partir em infinitos pedaços a única mancha – então seriam infinitas manchas que seriam jogadas ao vento, então sobre o Mundo cairia um grande silêncio, inabalável, intocável, como se houvesse o medo distinguindo-os desse mar de gente que se despencam um sobre o outro; mas eles não se reconheceriam nem assim, distantes, frios, sem nada, inócuos de uma vida promissora, arranhando apenas aquilo que se encontra diante de seus olhos brancos; a noite se ergue, as cinzas de uma tempestade se desfazem em espumas; um navio desembarca e carrega consigo o último forasteiro – agora é terra de desertores, eles jogam, tudo cede e fica vazio, ouve-se Bach, sente-se o frio percorrendo a espinha – um jorro de vida se estremece diante da inabilidade das coisas se tocarem, de se amarem e de se tornaram alguma coisa só... era este sofrimento, esta impossibilidade, esse recuar – essa ânsia de ser um só – um só um só um só – tudo é apenas um – somente... pois que...<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify">... era um amor que exigia inundações...<o:p></o:p></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-19960948297525516052012-02-05T13:08:00.002-02:002012-02-05T13:26:07.362-02:00RosaDa minha boca desabrocham rosas - brancas como espumas - de onde se sente o cheiro de maresia e toda nossa travessia parecia loucura; onde posso sentir nossos perfumes se entrelaçando em mãos firmes; porém, isso chega a ser tão misterioso que... que... sem querer, derrubei um ovo; vejo a clara trêmula ao chão - uma possibilidade rompida pela eternidade, enquanto que uma chama arde em fímbrias alaranjadas, estalando em chibatadas surdas; pois é assim que se parece este teu modo de olhar, tão indiferente, sem pelugem - dois aços frios se erguendo numa muralha de sangue; aproximamos nossas faces e algo nos conduz para esta música sem métrica; debaixo de sua palidez, o que eu vejo? meu Deus, o que fiz de mim afinal!? Pois... pois...Apesar de tudo, ele gosta do silêncio; sente-se suas palavras afundando em plumas; garotas sabem que o seu sorriso é uma ameaça iminente, como o guizo de uma cobra prestes a dar o bote; mas, não mais fatal do que isso é que, olhando-o bem de perto, ele já está morto; ah! espanta-se uma moça logo que vira a esquina - pois é assim mesmo, minha filha: sepultemos o que há de pior em nós - pois foi naquele silêncio que ele docemente morreu...<br />Minha boca desabrocha em rosas para que no calor da primavera eu colha uma quimera...O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-84723308312271088922012-02-02T21:37:00.003-02:002012-02-02T21:55:37.059-02:00As MariposasTalvez fosse mais simples do que apagar a luz. Mas eu percebo que algo pálido permanece iinsistente nessa sala, onde as mariposas se juntam num exército sincronizado e com suas asas enredadas de poeira e sombra, dançam como fantasmas, como uma mentira - como uma quimera... e quando eu abro a janela, suspiro o aroma do jardim ao cair da noite quente - esta noite que de tão quente parece branca - um lençol estendido no varal, já ressecado de tanto sol. Ponho o lápis de lado e me canso de pensar em poesia e, no final das contas, eu apenas me vejo debater na escuridão; tem algo nisso tudo que parece um tremendo engano - um desvio de percurso - algo que não fora sinalizado - pois de repente eu me desgarro das paredes que me sustentam e me vejo caído ao chão - quase morto, como que quem olha e se perde - que isto sirva de lembrete a quem me ver: minha consistência é insípida. Mas tenho amor dentro de mim. Mas meu amor pode ser como dessas mariposas que dançam e dançam e dançam... o Mundo é redondo porque ele ama - uma galinha é uma galinha porque ama - então não se esqueça de que também posso ter asas como uma galinha (e como ela, não saber voar) - pois eu que estendo meu braço e imagino o seu se agarrando às minhas mãos, vestindo em meus dedos uma luva de seda carmesim, fazendo-me de algo dentro de algo, sorvendo-me enquanto houver toda essa agitação desencontrada - parece que nossas palavras não se une - queria que enquanto nos tocássemos, fôssemos como essas mariposas de prata que se adensam cada vez mais na solidão da luz que se apaga agora com lentidão - no fundo, fazemos questão de que tudo se vá - que o vento carregue nossas poeiras, nossas lágrimas desavidas - acho que na próxima estação irei deixar minha carteira com tudo dentro - arranjarei uma mala e guardarei para sempre esse monte de lixo que se perdem nas avenidas, e ruas, e praças, e sei que encontrarei cacos de desesperanças e de amor também - e também asas dessas mariposas que agora repousam sobre minha cabeça e se parecem com rugas que me enchem de espanto...O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-3791401895703680742011-12-29T14:35:00.000-02:002011-12-29T14:36:08.592-02:00A cerejeira<div align="left">Quando o vento pareceu vacilar; quando as ondas do mar se partiram nas<br />rochas; quando a baía pareceu estremecer em arrepio; quando o céu se dobrou em<br />manchas; quando os primeiros raios da noite banharam o silêncio; a paisagem se<br />avultou como um rosto sombrio, com sua margem cheirando acre, com os coqueiros<br />balouçando mansas; quando o farol trespassava a solidão com a força da sua<br />luminosidade incontida; quando das franjas das árvores uma poça se formava ao<br />chão e os vagalumes bailavam em vestidos transparentes; quando de repente um<br />grito pareceu nascer do mais tenro vagar do silêncio entre as fímbrias da<br />relva; aquela era uma terra habitada por sombras que se deitam já ao amanhecer;<br />o que era aquilo, Deus? um pássaro sincopando a noite; uma lanterna que se levanta<br />e o caminho se faz íngreme; há um vale a se adentrar; uma montanha imensa<br />cobrindo a ilha; uma mulher que corre em busca do lençol que escapou do varal;<br />o que estamos procurando, o que queremos saber na verdade, por que estamos aqui<br />e agora meu Deus eu já nem sei – assim ele indagava – deslizando na proa do<br />navio, tateando no escuro, sentido uma força oprimindo lhe o peito; por esta<br />tempestade que despencava da escuridão em seu irremediável fim para a<br />eternidade; oh! mas era como se ele tivesse sendo cada vez mais arrastado pela<br />correnteza incessante que corre célere do fluxo e refluxo do mar; mas é como se<br />essa torrente estivesse banhada de pétalas de rosas mortas que, ao longo do<br />caminho, foram sendo arrastadas da curva de um rio; até o momento os sinos se<br />dobram etéreos; a reverberação de um som inaudito carrega consigo toda a força<br />de um abalo sísmico; todas estrelas se partem em lamentos sibilantes – o que é<br />este gesto sensual, o que é este florescer e fenecer, saberemos sempre que<br />vivemos no limiar do prenúncio, que somos seres periclitantes numa corda bamba;<br />a morte é isto, é este esgar, é esta flecha atravessando a solidão e no entanto<br />estamos aqui, a morte é este entrelaçamento sexual no qual gritamos por júbilos<br />de prazer – a farrapos, com as nossas armas postas ao chão, o nosso estandarte<br />partido em mil pedaços; um imenso abismo se abre entre nós e sempre estamos<br />vacilando, fugindo, escapando, indomáveis como touros na arena, esse círculo<br />mágico que no momento em que tocamos se liquefaz e escorrega por entre nossos<br />dedos – este pedaço de carne que nos é rasgado, este animal feroz rastejando<br />faminto sobre a sua presa – estas garras que arranham a parede com a crueza de<br />um corvo – ah! mas tudo isso, tudo isso não passa de...;<br />mas eles não se ouviram, não se compreenderam, talvez a noite os<br />cegasse a tal ponto que o consolo fossem apenas de se manterem cegos ao<br />desencontro, inertes ao pulsar de um coração feroz, faminto, como mãos colhendo<br />ouro de uma mina; dentro da noite era como se houvesse a possibilidade da<br />morte, como se a tempestade embalasse todos os pesadelos e todas as sementes<br />que os uniam se espalhassem e se ramificassem em raízes profundas – como a<br />Natureza poderia ser estúpida: erguendo-se e se desfazendo em si mesma como o<br />próprio fim, edificando-se, nascendo de face com a dor, o espanto, o desamparo;<br />mesmo que se adentrando em túneis cada vez mais arenosos, fáceis de cederem a<br />um toque, a um olhar, mesmo que a amplitude de um abraço corrompesse a ordem<br />natural dos fatores, a Natureza era ignorante diante da morte – porém, haviam<br />ele e ela que não se contemplavam, mas cingiam-se entre os fios que a Lua tecia<br />de sua cabeleira;<br />mesmo que assim fosse: que as colinas da Grécia fossem suaves, mesmo<br />que de suas encostas o ardor de uma vegetação rala envolvesse o cume de uma<br />montanha como a majestosa capa de uma deusa helênica; porém, fosse como fosse,<br />era neste estado que ele se encontrava quando ancorou na Grécia, dias antes,<br />com as suas malas amarrotadas de roupas, com a mochila recheada de livros, um<br />mapa meio rasgado colado com uma fita adesiva, uma bússola rachada – porque, de<br />qualquer modo, todo andarilho está sempre abismando naquele precipício que nos<br />persegue incansavelmente, devemos construir uma ponte – ele se indagava mais e<br />mais, pois nunca haveria uma fórmula pronta, a inexatidão é assustadora, não<br />queria cometer relapsos ou enganos consigo mesmo – pois ainda teria muito o que<br />seguir;<br />pois era assim que ele caminhava – com a sua bota de cano alto, com<br />sua capa de chuva cobrindo-lhe o tronco, as mãos enluvadas por um couro já<br />surrado – aquele rosto desenhado pelo perigo; porém, ainda com os gestos presos<br />à uma ingenuidade infantil, como alguém que carrega flores mas ainda continua a<br />levar tapas na cara; oh! mas que não se assusta, que não se interrompe no meio<br />do caminho pois há ainda algo de maior dentro de si que o impele a seguir...<br />ah, talvez fosse o sonho, o devaneio, a mentira, a farsa, a tragédia, os tantos<br />romances que lera em vida, as músicas que ouvira; também, quando sente fome,<br />resolve amar e se dividir para tornar-se um – ai, saciam-no com pedras, com<br />urzes e urtigas - sem querer seu arranjo<br />de flores cai ao chão e com um tapa na cara e simplesmente sua face saliente se<br />transborda em cacos, em míseros fragmentos que o vento carrega consigo; não,<br />pensava ele, não, dizia constantemente, não, e se sentia um monossílabo ao<br />dizer uma palavra apenas mas que de alguma forma dentro dessas três letras<br />havia uma força de salvação – a negação era trazida com a morte, com um tiro na<br />testa, com o coração apodrecendo em cólicas de vômito, sentia-se febril, louco,<br />ardente, intenso, jorrando labaredas de uma chama incandescente, morta,<br />exaurida pelos instantes jamais realizados, pelos olhares que jamais foram<br />encontrados, pelas palavras e gestos que ele jamais ouviria – e o nunca mais se<br />perdia no tempo; era assim que ele se reencontrava – pois amando ele se<br />transformava e sua alma saia de seu corpo e apenas sobrevoava toda a realidade<br />que o circundava – desse modo seu corpo e espírito se reaviam: na exaustão;<br />então ele voltava a seu lugar-comum, aquilo que diriam ser a sua zona de<br />conforto e apenas observava da janela, com os olhos expectantes, pessoas<br />vagando em cada canto – e aquele passante, aquele homem escondido em sua blusa<br />de lã grossa, sempre ao pôr-do-sol passava sombrio diante de sua casa e ele<br />apenas observava, ainda se recuperando, ainda tentando buscar aquele estranho e<br />indefinível estado onde as palavras não viriam mais e a mansidão amainava suas<br />mágoas e sua fúria, o seu rancor pelos seus amores jamais retribuídos, as<br />pessoas são como sombras e delas nada sabemos – assim como são imprevisíveis ao<br />ponto de a odiarmos e amá-las precipitadamente, até que vem o dia vem e com o<br />Sol tudo se esvanece – era assim que se aceitava condolente; ainda assim, as<br />pessoas o olhariam com o canto dos olhos – ninguém jamais se entregaria com a<br />profundidade de escavar novos terrenos, de descobrir cidades submersas, em<br />encarar o prisma do amor através da solidão e de mãos calejadas;<br />um dia ele sonhou com uma árvore de cerejeira – era linda! – o campo<br />imenso de uma fazenda desconhecida, porém a relva musgosa, o céu cheirando a<br />cinzas de um incêndio, as nuvens turvas como gelo que se derrete, mas lá no<br />centro de tudo, como uma imensa estátua hirta em qualquer deserto, como um<br />imenso rio que se desalinha em direção a montanha, lá estava aquela estranha<br />árvore de cerejeira! – o seu tronco macilento e retorcido e no entanto, como<br />era bela a sua copa! com as suas flores imensas despencando cores róseas e<br />esbranquiçadas e seus frutos ainda por amadurecer – porém, uma névoa se<br />adensara, tudo tornara-se embaçado, mal o sol refletia e seus raios<br />desapareciam e tudo lentamente se transcorria num imenso silêncio, vazio,<br />solidão, cores neutras se enfumaçando na paisagem, um pássaro piou tristemente<br />em algum lugar – em outro mundo talvez – até que nunca mais, nunca mais, nunca<br />mais... o mundo gira, o mundo rodopia na<br />ponta dos pés, espera que a Música nunca cesse, que os músicos continuam a<br />marcar o tempo, a melodia, a delicadeza das plumas da Lua sobre todas as<br />coisas... a cerejeira também dança, também gira, também se ramifica pelo mundo<br />em grandes braçadas;<br />foi assim que um dia ele acordou, se vestiu, arrumou as malas e,<br />cansado, disse “vou para a Grécia”, queria ir a Grécia, lá havia uma<br />sensualidade que ele nunca adivinharia, lá haveria talvez a sua cerejeira –<br />quantos frutos ele colheria? o que ele queria mesmo? ah estava cansado, aflito<br />e – covarde! covarde! pois fugiria, pegaria a primeira estrada, iria pra<br />Grécia, por covardia! já estava tão resignado a dor que aceitava compassivo a<br />sua própria covardia – no fundo de tudo ele era infeliz a tal ponto de ter amor<br />e não saber dá-lo as pessoas que tanto queria – ele era aquela espécie de<br />pessoa que causava a morte – só amando, só pensando em amar... talvez desejasse<br />agora aquela cerejeira para que sob os seus pés pudesse ler um bom livro e<br />curtir consigo mesmo aqueles amores abandonados, macerados, mascarados e<br />pisados de até então; peguemos um mapa, tracemos a rota e vamos fazer nossa<br />lápide!;<br />já na Grécia encontrou uma aldeia, seria terra das cerejeiras? – por que<br />ela o deixara? – porém eles nunca se compreenderam – neles havia a linguagem<br />cercando-os como uma muralha – até que houve a indiferença – ela nunca daria<br />frutos de cerejeira – nem mesmo a sombra para refrescar a fronde – mas ali<br />estava aquela aldeia – parecia um engano, um desaviso, um erro, os pontos que<br />não se encontram e já não tem mais uma reta mas sim qualquer coisa – um traço –<br />até que a noite cai e tudo se parece um deserto; tudo fica mais frio e ele,<br />como um gesto involuntário, arruma a gola do sobretudo, quer se esconder mais<br />do que a noite pode ocultá-lo, sente sede e tem fome, mas a aldeia está<br />apagada, parecem fantasmas suas luzinhas anêmicas – como não se lembrar dos<br />olhos dela, aqueles olhos que ardiam ao mesmo tempo que se apagavam quando os<br />olhos dele a encontravam, era como se algo se quebrasse sem no entanto fazer<br />qualquer ruído, porém escuta-se ecos, lágrimas que refletem uma mancha escura,<br />apesar de tão cristalina, era assim que se repeliam e era assim que ela dizia o<br />seu não, não, não – nunca, nunca, nunca –<br />vagava como um forasteiro – sentia a fina poeira das ruas da aldeia<br />roçarem em suas botas sujas – tudo estava fechado, tudo parecia estar<br />entristecido por aqueles luzes de querosene, as pernas ardiam-lhe de cansaço –<br />suava e estava frio e a qualquer momento ele previa desabar desfalecido – as casinhas<br />da aldeia eram pintadas de cores variadas que no entanto já dava para perceber<br />que estavam desbotadas – as janelas eram impenetráveis, apenas as fracas luzes<br />das lâmpadas à querosene vasavam palidamente – sentia-se um cheiro de óleo e,<br />contudo, o que mais interessava a ele e que fazia-o decepcionar que haviam<br />árvores de todas as espécies, mas não havia a cerejeira – onde deveria procura-la?<br />em que terras distantes teria que percorrer para encontrar o seu ideal, para<br />encontrar onde repousar seu corpo cansado e permanecer assim – etéreo – pela eternidade?<br />a pequena aldeia se fazia aos pés de uma imensa montanha que, pela escuridão da<br />madrugada, era impossível enxergar sua superfície; onde estaria o fundo das<br />coisas, onde encontrar verdadeiramente a solidez, a forma, esta mágica frágil,<br />perene, revestida através de uma ilusão, de um sonho, de uma quimera, através<br />de uma flor de cerejeira, ele só sabia se indagar cada vez mais;<br />o dia seguinte nasceu como uma esperança; ele novamente pôs-se a<br />caminhar na aldeia; ouvia-se um coral arpejado em notas agudas de um piano meio<br />desafinado, os graves estremeciam as folhas das árvores, as pétalas das rosas<br />se dobravam, reverenciadas ao vento, a aldeia vazia se embaciava esgazeada,<br />sombras se deitavam rente ao céu e a terra e não havia ninguém – nem mesmo uma<br />marca de esperança, de um possível encontro, de querer desfrutar o sabor de uma<br />sombra numa tarde fresca – qual seria a época em que a cerejeira desabrocharia?<br />onde foi então que se deixou ceder a tal ponto de ganhar asas e querer<br />voar? desatinado, afeito a impaciência, tristemente cambaleando como um bêbado<br />maldito, encontrou uma rota dentro da montanha e quando se vira estava com o<br />coração selvagem, com a força da montanha a esmagar lhe pela sua existência,<br />sentia-se como um pássaro preso a ramagens de um arbusto; escalava cada vez<br />mais a encosta da montanha com a ânsia de conquistar o seu cume, pois nele<br />havia a fragilidade e no cume da montanha talvez encontrasse a tão sonhada<br />esperança de estabelecer um repouso para si, essa ânsia de querer sentir a<br />segurança através do que é tátil, suas imprecisões se perderiam para o sempre,<br />até que se esgotasse e ele mesmo fenecesse – ah! quantas vezes teria sempre que<br />recobrar a visão diante das palavras de Virgínia Woolf? “A morte era um desafio. A morte era uma tentativa de união ante a<br />impossibilidade de alcançar esse centro que nos escapa; o que nós é próximo se<br />afasta; todo entusiasmo desaparece; fica-se completamente só... Havia um<br />enlace, um abraço, na morte.”; mas é que no topo da montanha pode-se achar<br />a chave do segredo onde se possa desenterrar o enlace de nossos mistérios,<br />nossos artefatos, nossos laços que nos unem; e lá no topo da montanha, talvez<br />as sementes finalmente despertem dos seus sonos e nasçam, criem raízes e<br />atinjam o âmago de todas as coisas, solidifiquem-se como uma verdade<br />irrefutável que é a vida e todos se ajoelhem aos seus pés... mas, espere! quem sabe<br />não seja somente no cume de uma montanha que a árvore de cerejeira nasça,<br />somente lá é que podemos tocar na face da Lua, as estrelas, o Sol, a solidão<br />deixando sua marca – enquanto empurramos o nosso amor e deixamos rolar ladeira<br />abaixo;<br />no entanto, como numa visão, entre as brumas e as neblinas que se<br />engrossavam no topo da montanha, havia sim uma imensa árvore de cerejeira,<br />fornida das mais lindas flores que exalavam um aroma docemente ácido, plumoso,<br />macio; ele se ajoelhou diante de uma visão de Deus; a ele agora só teria amor<br />para dar porque o amor fervilhava dentro de si como lavas de um vulcão<br />violento; ele tocaria no que é sagrado e dentro dele nadaria até que chegasse a<br />inevitável hora da morte – o seu destino era esse, era se agarrar a uma árvore –<br />encontrar a solidão – devemos amar, mesmo que seja algo, mesmo que esse algo<br />não se mova, não se pode desistir, deve-se amar porque amor é questão de<br />salvação – e ele, como uma criança, subiu na árvore e dela colheu os seus<br />melhores frutos, deixou que a fruta explodisse na superfície de sua língua e<br />todo aquele gosto, aquele aroma violento, o arrastasse cada vez mais para<br />aquele torrente violenta de paixão – lembrou-se dos olhos, recordou-se também<br />das sombras que ele nunca pôde agarrar, da sua incapacidade de saber amar, de<br />ser amado – largou-se ao pé da árvore todo lambuzado e assim ficou –<br />- até que a eternidade o embalou...<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-51543531609582194742011-12-22T11:41:00.001-02:002011-12-22T11:43:20.637-02:00A Mancha.Eu não irei falar sobre flores; minhas veias estão abertas e delas<br />escorre o sangue; as sombras se desmancham nos campos onde as vacas dormem;<br />estas palavras são mal ditas na ponta de minha caneta; poderia estar agora correndo<br />em algum lugar aberto, deitado à costa de um cavalo, sentindo o galgar de suas<br />patas; o vento ondulando a mornidão da chuva que ameaça a cair das nuvens<br />grossas; por quantos anos esperei para que o arranjo de flores se desabrochasse<br />como uma coroa de louros em minha cabeça – porém, a primavera nunca veio;<br />tropeço amordaçado; as cortinas se insinuam na janela; púrpuro, incólume,<br />viçoso; nossos bosques não têm mais flores; nosso canto é uma mentira; quando<br />me olho no espelho eu posso me ver como um objeto falacioso; um objeto; não<br />passamos de algo extático; deixemos os livros de lado – que suas páginas<br />embolorem com o decorrer dos anos; que a curva do rio se arraste para margens<br />distantes do Atlântico; deixemos que a luz atravesse a escuridão através das<br />franjas do lustre; minha caneta estoura e a tinta azul escorre violenta e<br />quente; a primavera nunca veio – o verão não existe; atravessaremos sempre esse<br />mar de folhas secas que atapetam nossa passagem; viremos a página;<br />quando peguei no ônibus para N..., sentei-me ao lado de uma janela<br />ampla; a garoa parecia cortar o vidro em pequenas feridas agudas; porém, lá<br />havia uma mancha; uma mancha; detive o meu olhar para esta mancha; ela pareceu<br />crescer em forma, em tamanho, em cor, em brilho, em existência – a vida parece<br />mesmo com este eterno expandir, dilatar, essa ânsia de querer ultrapassar os<br />seus próprios limites – até que uma linha se rompe e tudo vaza para o nada;<br />quando aproximei mais o meu rosto daquela mancha cinzenta (devo dizer que ela<br />era cinza – será por que estava nublado?) ela simplesmente tornou-se pequena<br />novamente; aquela mulher gorda apenas espiava – dentro do seu imenso vestido de<br />flores, parecia um balão; seus seios saltavam como duas gelatinas engorduradas<br />e contritas; a gorda me espiava, sorrindo e piscando; olhava para mim com uma<br />curiosidade quase maternal – do que estou falando? – mas e a mancha?; peguei o<br />lenço do bolso e tentei limpar o vidro; mas a mancha era uma marca, forçamos a<br />vista para tentarmos olhar através dela; passei cuspe na ponta do dedo, mas não<br />adiantou; tirei um livro do bolso e as<br />palavras se entrelaçaram, formaram um nó cego e a mancha caiu sobre minhas<br />pálpebras;<br />curioso, mas é um lugar-comum; conforme olhamos e vemos a sua sombra<br />tornar-se mais consistente, afundamos mais na solidão; porém, quando o sol está<br />alto no céu, uma multidão parece assistir a tudo isso como um espetáculo – até<br />a noite cair e tudo esvair no esquecimento; não há o que dizer e não sei porque<br />escrevo sobre isto – mas vejo que atrás dessa mancha haverá uma marca que<br />jamais será apagada – logo, em essência, a mancha sempre continuará a existir –<br />mesmo que em sua forma inexistente; surpreendo-me como uma simples mancha pode<br />profanar o ritual de um silêncio, o crepitar de uma onda sobre o mar; basta<br />apenas abrirmos um livro, um romance qualquer, seja o autor russo ou nacional,<br />e repetidamente caímos no mesmo drama, a roda do círculo vicioso sempre a girar<br />e quase vemos as palavras narrando a mesma situação, o mesmo medo de sentir e<br />de ser apreendido por algo oculto, místico, cambaleante entre as curvas de uma<br />colina – ainda existe uma Montanha inabalável no horizonte que estremece a<br />retina de meus olhos úmidos...<br /> Como a realidade pode ser<br />mitigável apenas pelo relance desencontrado de pontos coincidentes que jamais<br />se entrecruzarão entre si no momento em que se perderam em direções tão<br />opostas, caminhos tão divergentes? Acredito que deva existir outras formas<br />menos dramáticas de nos confrontarmos com situações como esta mas, seja como<br />for, nos depararemos com uma pétala de flor que se desgarrou da sépala e que<br />agora se enegrece morta dentro de um vaso, ou pela poeira que brilha na<br />superfície da estante de livros, ou... ou... parece que estamos sendo<br />importunados constantemente por um puxão qualquer – como se uma criança<br />atrevida sempre nos tivesse arrastando pelas mangas em terríveis safanões;<br />suspeito, porém, que a maioria de nós estamos preocupados em sermos<br />indiferentes a esses bruscos encontros com a sombra do outro; poderia eu fazer<br />diferente? – ah! mas Deus me perdoe por essa minha cegueira que despenca nas<br />pálpebras dos meus olhos como uma mão sútil que se fecha a punhos de aço – e é<br />assim, desavisadamente, que andamos entre vestidos esvoaçantes e carros<br />acelerados – entre casas e prédios arranha-céus; porque é desta forma que<br />levantamos a nossa visão entumecida de um estranho negror e enxergamos além da<br />margem do livro e vemos então... ; oh, mas espere: do que realmente eu ia<br />falar?<br />eu não irei cadenciar rimas; meus versos se borraram de tinta; já é<br />tarde demais – o metrô atravessou a estação furiosamente; resta apenas fumaças<br />e cinzas; parece que os segundos do relógio se desatinaram freneticamente num<br />urro dissonante; andaimes e fios de aço se desprenderam da parede e me ataram<br />numa prisão de concreto; mais do que loucura – eu grito; ninguém me ouvirá;<br />ninguém virá ao meu socorro; é por isso que emudeço; minha boca se cola à<br />parede; não quero rezar; ninguém ouvirá meu nome – sou inominável; homem sem<br />terra; sem lei, furto-me ao pedantismo; – sou um cínico canalha; não sei teu<br />nome e jamais saberá o meu; beijo tua face com a boca lambuzada de escarro;<br />quem sou eu afinal? não sei, não sei – não saberás; pouco me importa quem é<br />você: apenas ouça; assim daremos as nossas mãos; estou despido; nu, ando a céu<br />aberto; olhos me espiam, mas ninguém me vê; estamos unidos; estamos unidos;<br />Mais uma vez eu deixo esquecer o que era o assunto principal da<br />questão – se estou preocupado? realmente, não sei – vamos fingir sermos<br />indiferentes a essa conversa que se sucede – voltemos ao nosso lugar-comum de<br />cada dia; falemos daquele homem que há dias atrás se enforcou no meio da<br />madrugada; há aqueles que suspeitam que o caso não foi suicídio, mas sim<br />homicídio – pois a namorada deste pobre homem se encontrava no local do crime –<br />uma negra e, além do mais, pobre! – um absurdo; por que especular o que é<br />óbvio? mas sob qual ótica? – simples: pela cor negra que se desbota na pele da<br />moça; a cor da pele é um meio para a justificativa; mas qual é o fato em si<br />mesmo? e de repente falo apenas de uma negra – e o enforcado? já está enterrado mesmo, não há<br />nenhuma importância – deixemos a negra de lado, deixemos o defunto enterrado – devemos divagar sobre outras coisas: “também, uma negra com aquele cabelo, com<br />aqueles pés rachados” dizem as moças e logo o a história principal se torna<br />algo secundário; mas não é que agora eu não me lembro do que ia te dizer? é a<br />mancha, é a mancha! negra como a negra! quantas vezes precisarei me reunir<br />diante da janela, buscando a impalpável leveza das palavras, buscando o<br />frescor, a brandura de uma vida tenra – fragmento-me em mil pedaços e deixo-me<br />recolher em sombras mornas, formando um vitral descolorido no horizonte de uma<br />paisagem presa à minha lembrança; vejo as cores se movendo languidamente na<br />franja dos meus dedos; sentir um cataclisma me deslocando para outra realidade<br />que não pertence à carne, ao desejo – deixo-me sucumbir à esta mancha que<br />aparece na janela da qual passo a reunir gradativamente meus cacos – preciso eu<br />ajustar as minhas lentes? pois esta mancha é escuramente vítrea, etérea,<br />deslocada de qualquer existência em si mesma, de onde as ondas se quebram e<br />formam um arco perfeito de lágrimas espumantes; talvez seja uma nova cegueira,<br />um novo problema na minha vista – forço-a, esfrego minhas mãos aos meus olhos,<br />quero atravessar o meu campo de visão para tocar a mancha, mas ela é<br />impalpável; passo novamente o lenço no vidro da janela com esperança de<br />arrancar toda a sua sujeira, sua forma excêntrica se espargindo em todas as<br />direções, suas camadas grossas sobrepondo às mais finas, o sol não se esgueira<br />através de sua superfície e as estrelas se ocultam em sua sombra; prefiro<br />fingir, fechar os olhos para não ter que ver sua estupidez hirta na realidade –<br />fechemos as cortinas e ocultemos o que há do outro lado da janela; vamos ser<br />incoerentes ao ponto de sorrir e esquecer a torneira da pia de casa aberta –<br />creio que todos nós cometemos crimes imperdoáveis diariamente; mas<br />temos rido com histeria dos nossos atos; até chego a me perguntar se não estou<br />me enganando, que tudo não passa de uma tolice acreditar que somos essa massa<br />de sonâmbulos delinquentes; mas, seja como for, ainda esquecemos a torneira de<br />água aberta; esquecemos também de regar as plantas e também, o que é pior...<br />afinal, o que importa?<br />Por mais que seja lugar-comum, perco-me facilmente ao falar desta<br />mancha tingida em minha janela; ah! mas agora violado meu santuário, devo<br />refugiar-me a que espaço? procuro pessoas, pego o metrô, ando de ônibus, saio<br />caminhar nas ruas, de vez em quando eu pego telefone e ligo para alguém; vejo<br />um homem tocando violão e seus acordes são tão dissonantes que me enlevo numa<br />áurea atormentada numa onda cambaleante de aflição; inquieto-me; Ah, mas o que<br />fazer com o outro – esse monte de carne esponjosa se arrastando de um lado para<br />o outro – o que fazer com essa matéria insossa que eles nos entregam? Devo<br />fechar os olhos? porém, ainda podemos sentir o cheiro do putrefato, da podridão<br />que é a incerteza, da vaguidão de estar perdido em corredores escuros; suspeito<br />que tudo isso seja carne morta esfarelando a vida em poeira infértil – será a<br />mancha em sua forma plena? fossilizamos o que ainda nos resta! cavemos nossa<br />sepultura! vigiai – pois a mancha me devora;<br /> parece que aquela mancha<br />cinzenta esta ainda borrando a visão de quem tenta enxergar através do vidro,<br />enquanto que o ônibus não interrompe sua viagem; cada letra de meu nome desliza<br />do seu invólucro e se desmancha no ar como um arco-íris; pra quê precisaria eu<br />de um nome?; meu nome é um número; este número é um segredo que nem eu mesmo<br />decifrarei; eu só sei cantar essa melodia desafinada que se choca com a parede<br />embolorada; eu sei o que sou – sei bem, aliás; no entanto, estou longe das<br />definições; no momento em que descobri o que sou me tornei um inválido; como um<br />daqueles que ficam largados nas avenidas e em frente de bares pedindo uma<br />esmola; esses humilhados – mas sou como eles; sento-me na sarjeta e neste<br />momento rifo-me como recompensa de não ser nada; aquele cego que sai do trem me<br />compreende: ele não me enxerga; quando estou com fome me alimento dos restos<br />dos meus sonhos; esse mundo anda a passos de elefante; não acompanho seu ritmo;<br />vou escrever uma carta; vou escrever um romance; antes, porém, devo me enforcar<br />num poste para que então eu sirva de aviso; que em minha lápide escrevam:<br />“Alguém que jamais falou sobre flores”.<br />Enquanto que a mancha – esta eu deixo para a eternidade...O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-84484523696409064462011-07-28T12:36:00.003-03:002011-07-28T12:40:50.916-03:00Eu quero zombar do Tempo.<div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span">(Para o Gustavo Barros)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16px; "><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>“Tempo disso, tempo daquilo; falta</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>o tempo de nada.”</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>(Carlos Drumonnd De Andrade)</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em><br /></em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em> </em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>“Só me sinto bem em</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>liberdade,</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>fugindo dos objetos,</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>fugindo de mim mesmo...”</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em>(J.P. Sartre)</em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em><br /></em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "><em> </em></p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Eu percebi que os livros são inúteis. E que não adianta nada pesquisar sobre isso. Às vezes a gente tem que inventar as coisas, mesmo que essa invenção seja uma mentira. E mesmo que essa mentira, quando lida, se torne verdade. Não importa. O importante é exorcizar aquilo que nos pesa. Aquilo que nos prende.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Aliás, acho que tenho um pouco de artista em mim. Logo, não me preocupo em dizer a verdade. Artista é aquela pessoa que adivinha do ar e simplesmente sabe<em>. “Como é que sei? Sabendo. Artistas sabem de coisas” </em>(Clarice Lispector). Não poderia ser mais simples? Se você que me lê neste instante, é porque até agora está tendo a coragem de depositar em mim alguma fé de que isso lhe traga alguma coisa de útil. Você irá perder Tempo. Mas vale lembrar que tempo é uma mentira. Não se assuste: porque é sobre o Tempo que quero falar.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">O Tempo é uma mentira. O Tempo não existe. Eu nasci tão nu que nem sabia o que era Tempo. Hoje eu sei o que é o Tempo. Só não me pergunte o que ele é. Santo Agostinho (354-430 d.C) quando perguntado o que era Tempo, respondeu: “Se ninguém me perguntar, eu sei. Mas, se eu quiser explicar a alguém, eu não sei.” E percebi que a ignorância é fascinante.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Só pra dizer que eu pesquisei alguma coisa, em um site qualquer eu encontrei o significado de Tempo. A <em>palavra </em>Tempo tem origem no latim. Ela é derivada de <em>tempus </em>e <em>temporis</em>, que significam a divisão da duração em instante, segundo, minuto, hora, dia, mês, ano, etc. Isso só vem provar que Tempo é uma coisa tão falsa que me escandaliza.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Tempo não é coisa de Deus. A própria Teologia Medieval dizia que Deus é atemporal. Ora, na Bíblia, há uma coisa interessante. <em>“E Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” (Gênesis 1:26) </em>Logo, se Deus é atemporal, e se somos a sua imagem e semelhança, então fomos feitos para vivermos nessa atemporalidade. Você, cristão, que me lê agora, não me leve a mal. Eu nem acredito no mesmo Deus que você acredita. E não me venha chamar de pagão!</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Spinoza diria: Tudo é um. Ah, como eu amo Spinoza. Deus nos É (mas isso não quer dizer nós sejamos Deus!) – haveria limites para um Deus que se faz presente diante de todas as coisas? Nós morremos e renascemos nesta mesma Terra – tudo é uma única substância, tudo respira de uma única boca – andamos de mãos dadas – e o Tempo é uma invenção para dizer que tudo isso também é uma mentira.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">O Tempo no qual pensamos acreditar se trata de um Tempo desmoralizante. Esse Tempo que adora jogar na cara que você vai morrer. E talvez nunca mais volte. Eu aposto que esse Tempo rende muitos lucros. Tempo é uma questão de Marketing. Aproveite o hoje, pois o Tempo é curto. É a mesma coisa que dizer: sacrifique tua vida em prol de outra coisa que não você mesmo. Pois o fim está ai. O Tempo é uma hipocrisia. Os covardes amam o Tempo. Apocalipse Segundo São João é um manifesto dos covardes. Pois a ameaça maior não é a Ira de Deus – mas é o fim do Tempo em si. Os covardes abdicam então sua vida para o Tempo. Parecem virgens. Com suas bocas inúteis. Mas o Tempo foi tão bem elaborado que eu até diria que foi feito por grandes artistas.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Mas é que Deus é atemporal, como eu já disse. Este Tempo aqui, do lado de fora, onde tudo envelhece, desgasta e “morre” é muito material. Mas há esse Tempo sem tempo que eu não quero chamá-lo de Tempo. Chamá-lo-ia de Tempo por formalidade, apenas. Eu me visto de branco e digo meu amor a Deus. Então não acredito nesse Tempo Materialista. Creio que para Tempo não há espaço. Para Deus não há espaço. Para a Arte não há espaço.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Quem é artista sabe muito bem do que falo. Digo novamente: artista sabe das coisas. Artista é um mentiroso que só afirma verdade. O que eu te digo é uma mentira puramente verdade. Arte não é um dom Deus. Arte só uma forma de linguagem que encontramos para falar com Deus. Que os artistas ateus me perdoem, mas essa é a verdade. A arte é um mistério. Na arte não há cinco segundos, nem dez minutos. A Arte é amor. E <em>“quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós”</em> (Clarice Lispector). O que são dez minutos? Eu juro que não sei – porque ele não existe. Tempo é pedra. Eu prefiro ser essa coisa insossa: escorregando pela eternidade.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">A Arte é um fingir que se é. E quando você deixa de ser o que se é não há mais o Tempo. O Tempo só lembra que <em>você</em> existe. Quando você interpreta uma mentira, o Tempo não te pega mais. Quem é você? E você não se é mais. A Arte é a celebração dos corajosos: pois eles se abstêm do Tempo. A Arte consolida a imortalidade. Deus é imortal.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Eu não acredito no Tempo. O Tempo ri de mim com ironia. Se eu morrer amanhã, morrerei sem Tempo. Mas voltarei para os seus braços – este mesmo braço vazio do leitor que me lê. Te darei um abraço. A Morte é um abraço. Afagarei os teus cabelos só pra te lembrar que o Tempo não existe.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">Você que acabou de me ler, esqueceu por uns instantes que horas são.</p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; "> </p><p style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; font-size: 11px; line-height: 1.5em; ">(27 de julho de 2011).</p></span></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-2155370790831787532011-07-26T12:08:00.001-03:002011-07-26T12:12:44.429-03:00Passeio.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-nlePgkMp-YBusetg5GqhqtqhlfUTXo-gDGSy01gRMBVNi0Hc72xMvYDnJAJTXJ1v_yeSQK9oM1fxnryBgT066lG2ONtmAv8q4B2ZoC_qyxNRSNVjhBqYs7TO5PpBSuNlU5Pnty2gA9I/s1600/ao_parecer_by_pedrotaka.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 203px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-nlePgkMp-YBusetg5GqhqtqhlfUTXo-gDGSy01gRMBVNi0Hc72xMvYDnJAJTXJ1v_yeSQK9oM1fxnryBgT066lG2ONtmAv8q4B2ZoC_qyxNRSNVjhBqYs7TO5PpBSuNlU5Pnty2gA9I/s320/ao_parecer_by_pedrotaka.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5633678513590300610" /></a><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Eu não tive coragem de abrir os olhos. Quando eu vi a ponta do horizonte respirando escuridão, eu percebi que o mundo era imenso. As árvores altas cobriam o sol – e o vento era tão macio como as noites frias de Outono. Era Outono. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">- Não tenha medo – ele me disse com uma voz doce. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Mas eu não respondi. Porque eu também estava com medo dele. Porém, ele se sentou e senti suas mãos pesadas se prendendo à minha cintura. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">- Vamos lá? </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Eu fiz que sim com a cabeça. Cheio de medo e espanto. Mas eu podia ver um vitral se formar no escuro das minhas pálpebras. E, de repente, era como se deixássemos cair no centro do turbilhão de uma tempestade. O vento era frio e embalava o meu corpo. Mas nos meus olhos, aquele vitral... o sol se refletindo e as folhas das árvores contornando-se em sombras diante do meu medo. Então eu senti a mão dele acariciando levemente os meus cachos. Estiquei as pernas e o vento parecia se quebrar na ponta do meu pé. E tudo ficou imensamente veloz, e a realidade parecia se dissolver num sonho que fugira da madrugada e agora invadia as silhuetas das altas árvores e se espargia no asfalto cinzento. Mais uma vez ele se agarrou à minha cintura e então me senti mais seguro.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Até que tudo foi ficando mais leve. Tudo deixava de rodopiar e voltava ao seu lugar... o sonho finalmente cedeu o seu lugar à realidade. Mas eu estava de olhos fechados. Não queria apagar a sombra das folhas que margeavam a minha escuridão. Quando abri os olhos, o sol estava pálido. No meu cílio, estava presa uma pequena folha seca. E meu corpo pareceu de dissolver em delírio... </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">- E então, filho?, perguntou meu pai encostando a bicicleta no salgueiro.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Aquele homem tão imponente me encarava. Sorria. E percebi que ele me amava. E, tendo recebido seu amor, eu queria ser amado novamente. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">- Podemos fazer mais uma vez?</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">(26 de Julho de 2011). </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">*Desenho: Pedro Takahashi.</span></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-29641519480120127712011-07-22T10:55:00.002-03:002011-07-22T19:48:27.551-03:00Amor.<p class="MsoNormal" style="text-align:justify">(Para a Bruna Takahashi)</p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify">O vermelho e a púrpura irradiaram com uma força brutal. As cores mancharam em borrões o negro da sala sem luz. Mas era de noite – e havia a Lua espiando. Mas era de noite – e o mistério era uma chama fraca que se incandescia sem força. Era de noite – e o mistério se encerraria a sete chaves no profundo escuro da Terra.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">E quando o vermelho e a púrpura pareciam se fundir, de repente o amarelo começou a orvalhar a noite. E as três cores pareceram lutar em si, insanas, famintas, prestes a se rebentarem com violência. Aquela água púrpura avermelhada fora ficando cada vez mais amarelada com o ar suave e fresco da noite. E, com uma impaciência que só a Natureza às vezes tem, um turbilhão se formou em ira e, quem o olhasse a certa distância veria apenas três cores lutando entre si num tornado bruto, cego e violento. No céu, a Lua pareceu se dissolver em pânico... três grandes astros pareceram se aproximar com imponência. Mercúrio, Marte e Plutão oscilaram entre as cores que se inquietavam. Estaria havendo uma guerra? perguntou a Lua que se escondera atrás do Sol. Não, está se fazendo uma nova vida!, respondeu o Sol em suave delírio. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Então as três cores se fundiram e assim nasceu uma cor que se esparramou pela Terra... <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">A essa nova cor, os homens chamam-na de Amor. <span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p><span class="Apple-style-span"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span class="Apple-style-span">22 de julho de 2011</span><span class="Apple-style-span"><o:p></o:p></span></i></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-3256173746066561782011-07-20T10:13:00.001-03:002011-07-20T10:14:55.742-03:00A Montanha.<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" >(Para o Guto)<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: justify;"><o:p><span class="Apple-style-span" > </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; ">“Falta-lhe ainda”</span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif; ">, escrevia finalizando a carta, <i style="mso-bidi-font-style:normal">“registrar algumas coisas...”</i>. Reticências. A montanha pareceu se aproximar cada vez mais quando o sol apareceu. O jardim de rosas e lilases se descorou em sombras. Isso quando o sol novamente fugiu. A montanha estremeceu frágil, úmida. Para se afastar novamente ao horizonte. Enquanto que na encosta, tudo estava escuro. Alguns pinheiros velhos e retorcidos se agarravam aos brejos. O sol se mostrou tímido atrás das nuvens e a luz atravessou as franjas do lustre. Então, aquele amarelo-pálido pareceu escorrer com fúria – como água numa gruta. Uma poça se fez no chão e pequenas manchas escuras nadavam na superfície. E quando um pássaro gritou em pânico, as urzes se enrolaram nas lajes, cheias de cólera. A montanha talvez se desfizesse em águas brancas. <i style="mso-bidi-font-style: normal">“... coisas que eu não consigo dizer...”</i>, escreveu enquanto concluía estar sendo um tolo, pois sempre há o que dizer. Ponto final. Na baía, pequenos barcos oscilando. Olhou pela janela – e viu um navio afundando no horizonte<i style="mso-bidi-font-style:normal">... “... toda essa beleza... é insuportável demais...”<o:p></o:p></i></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Isto ainda não é o fim, pensou apertando os lábios com impaciência. Ainda havia algo fora de ângulo; alguma coisa não estava registrava porque se embaçou diante das lentes. Ele se levantou meio dormente. Com as mãos no bolso. Parou diante da janela, tentando apenas olhar; uma hostilidade ameaçava a visão: mas as ondas do mar apenas se contorciam em pequenas manchas...<span style="mso-spacerun:yes"> </span>aliás, o mar estava tão tão tão azul que as ondas brancas pareciam se retrair concêntricas para as profundezas daquela imensidão...<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Na outra margem da praia havia um porto. Os navios ancoravam quase que raramente no pequeno cais. Porém, havia os pescadores. Era possível avistá-los de braços nus e salpicados de sal içando suas redes cheias de pesca. O que dava a ilha aquele cheiro de peixes e óleo. Aquele cheiro acre margeando a montanha como uma neblina...<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Ah sim! A montanha... é imensa! Encobria parte do horizonte... se naquele momento a montanha parecia dócil e frágil, sob a luz do luar ela era um mistério. Feita de crateras escuras e rochas pontiagudas que se esclareciam banhadas em prata na lua fria. Uma mata densa se fez aos pés daquela esfinge. A montanha inconquistável. Diante daquela praia a montanha era um delírio – com o seu cume imerso em neve. O proprietário do hotel dissera que morreram milhares de exploradores que tentaram desbravar cada reentrância da montanha. Mas a montanha estava em silêncio. Agora, todas as estradas que davam acesso a ela estavam bloqueadas. Não é permitida a entrada de...<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; ">“Há algo de errado com essa montanha”</span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif; "> começou a escrever, <i style="mso-bidi-font-style: normal">“pois tenho a vaga impressão de que há pessoas lá... apenas espiando... não sei porque essa montanha me assusta. Ás vezes, ela é estúpida. No entanto, pressinto que ela me ameaça. Com uma ferocidade calma. Sim – esta montanha parece ter um ódio paciente.”</i> Repentinamente, um lampejo de luz atravessou a janela – o farol... <i style="mso-bidi-font-style:normal">“mas até parece que eu a conheço bem... será assim tão simples? Como uma vaga lembrança, como degustar entre os dentes essa sensação adstringente de que tudo já se foi? Mas foi o quê, meu Deus? Eu te digo: essa montanha é um delírio...<o:p></o:p></i></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Os hotéis daqui estão lotados. As casas dos habitantes da ilha se amontoam como favelas na curva da praia. Estou há apenas três aqui, eu sei. Mas também sei que algo me vence. Algo muito maior que eu.<o:p></o:p></span></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; ">Já era hora de eu ter partido. Ou senão uma montanha seria apenas uma pedra no meu sapato. A vaguidão das brumas no amanhecer é lindo – e quando as borboletas se enroscam nos espinhos das rosas? Pode ser crueldade – mas nas pétalas das rosas há um sangue quente palpitando vida. E essa montanha é tão estúpida que cobre toda a ilha de sombra. Mesmo que o sol insista em iluminar. Antes da mamãe morrer ela me disse: ‘Talvez, se eu estivesse no cume de uma montanha agora, morrer me fosse mais fácil. Aprender a voar dói muito.’”</span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >A tarde se coroava de vermelho. Os andaimes do porto trabalhavam estalando. Toda a montanha, revestida de escuro, parecia lisa. Como a superfície de um ovo. Porém, havia cicatrizes ressentidas. Agora o mar era verde – e o mar se espelhava sobre a montanha. E o vermelho se fundia no verde com certa doçura.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >“Mas olhando a Montanha agora, nesse espectro esverdeado, percebo que ela é apenas uma mentira. Pois agora ela brilha tão suave como um sonho. Ela se afasta vencida, como uma palavra que a gente não fala. Ou, talvez, como se fosse algo surdamente ruidoso. Onde espaço perdido de sua superfície parece suspirar incerto – pressinto que esta montanha seja volúvel ao ponto de parecer uma ilusão a quem olha. Se à noite ela me ameaça, agora posso acariciá-la – pois estou tão próximo de seu cume que quase a toco na ponta dos meus dedos. As sombras que caminham sonolentas sobre o mar parece se imobilizar diante da gravidade austera da montanha. Oh, meu Deus, mas sinto que ainda essa montanha desperta algo muito maior do que isso que te digo... mesmo agora com ela se aparecendo uma nuvem – tudo não pode ser uma mentira?” <o:p></o:p></span></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Quando o sol se pôs no horizonte, o vento pareceu suspirar...<i style="mso-bidi-font-style:normal"> <o:p></o:p></i></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Os pássaros de prata se agarraram às altas folhagens que se moviam solenes... o vento acariciando a paisagens impressionista embebida num suave ninar prematuro, a maresia que banhava a costa da praia... Não! pensou consigo, pois ainda algo pairava hostil sobre aquilo tudo... o coração curvava-se pensativo, tímido, quase sem fôlego, um pouco cansado... ah! mas apenas três dias distante, ele banalizaria aquele vazio que se formava em seu peito, pensava com inquietação... aquela carta era algo inútil – como a Montanha... ele talvez jamais compreenderia que a saudade é assim mesmo: essa fome selvagem de querer possuir o outro, essa sede de querer ter nos lábios o sangue da pessoa para sentir o íntimo do seu escuro pulsando em vida... o que ele poderia entender? se indagava com inquietação... que saudade é essa ânsia de morte?<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; ">““Ontem”, </span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif; ">continuava escrevendo<i style="mso-bidi-font-style:normal">, “andei um pouco no centro da ilha. É curioso notar como as pessoas daqui se habituaram a montanha. Fui ao porto ver o pôr-do-sol e acabei conhecendo um comerciante. Fizemos amizade no ancoradouro, enquanto ele preparava suas mercadorias para o próximo navio cargueiro que iria atracar em algumas horas. Convidou-me a ir ao seu chalé para me mostrar sua coleção de armas. Achei interessante o convite. Aliás, esse comerciante é muito curioso. Infelizmente ele gesticula demais – parece uma marionete. Sua coleção de armas é fantástica. Mas não pude de deixar de comentar sobre a Montanha. ‘É realmente intrigante’, começou a falar pensativo. ‘Às vezes tenho a sensação de que ela é apenas um susto... essa Montanha – ela se faz em sonho: em cascatas transparentes, como as espumas brancas do mar espargindo na imensa rocha que paira aérea no meio do nada – é lindo de ver o arco-íris que se forma quando uma grande onda rebate nela... A solidão parece se desbravar das sombras da encosta para ir se enrodilhando lentamente até a ponta da cordilheira’ E assim ele sonhou acordado por alguns segundos. “Ah mas morreram muitas pessoas ai!”, disse numa repentina lucidez. Então me mostrou algumas notícias, fotos e recortes e me contou do seu filho que iria explorar a Montanha juntamente com alguns exploradores naquela mesma noite. Fiquei surpreso. ‘Há sempre o que descobrir’, exclamou o meu amigo numa espécie de justificativa a minha surpresa... ... quando voltei para o hotel, não bebi nada, nem comi. Fechei as cortinas. Não queria a Montanha me espiando. Mas desejei imensamente que o filho do comerciante morresse – que a montanha o engolisse com fome. Hoje de manhã, foram encontrados mortos por uma imensa pedra que caiu sobre o grupo, numa espécie de pequena avalanche. Que morte estranha e estúpida! <o:p></o:p></i></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Mas só agora é como se o meu sol se despertasse e iluminasse o que era impreciso... – como dizer que sinto sua falta? Como te dizer que sinto saudades? Há no verde-esmeralda dos seus olhos o mesmo mistério, o mesmo ardor e a mesma violência de vida que há nesta Montanha. Se eu te encarasse neste momento veria piscando nos teus olhos essa imensa Montanha esverdeada. Assim como eu fixo o meu olhar na Montanha agora só para fazer a tua imagem. E a Montanha me encara com uma fome de rapina. <o:p></o:p></span></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Eu sempre te exigi demais – eu sei. Como se a sua presença fosse incapaz de me satisfazer. Mas não – o que eu queria era a tua vida! Pois a liberdade que eu almejei, no fundo, sempre fora esta: a de conquistar uma Montanha escura, pontiaguda, feroz, frágil. Mas agora sinto que a minha incapacidade maior foi a de não compreender o teu silêncio – preferi agitar os sinos das torres e afugentar as pombas! Para se conquistar uma Montanha é preciso primeiro começar a passos lentos. Escuta – esse meu caminhar macio e suave farfalhando na relva úmida. Sentir a terra molhada grudando na palma da mão. Deveria ter começado com apenas um suspiro, como uma prece. E ir caminhando tão lentamente. Isto é amor meu Deus! Mas isto é amor! Um amor íngreme. Um amor crestado em rochas ígneas. Até o momento em que só há uma trilha a seguir: e de repente já se está quase numa clareira... e de repente pode-se descobrir...”<o:p></o:p></span></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >A noite caíra. A Terra, por um momento, pareceu estremecer. E, olhando pela janela, a Montanha! Grande, majestosa, imponente. A Montanha. Pode-se descobrir... ele murmurou de sobreaviso. A Montanha até se parecia com uma verdade absoluta! Mas não – vendo as fendas feridas se fazendo ao longo da superfície da Montanha, ele podia enxergar os olhos! Os olhos! Os teus olhos... mas porque agora tudo parecia ser tão mais simples? <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >“... a Montanha é de um tímido escuro... eu não sei como concluir esta carta... mas eu sei o que preciso fazer...” <o:p></o:p></span></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >Vestindo uma blusa, apesar de não estar frio, e acendendo um cigarro, foi até ao jardim do hotel. Absolutamente nada se movia. Apenas o vento respirando com preguiça. O mar cambaleando em vai-e-vem... dentro daquela imensidão, ele era apenas um ponto que quase não se movia. Era algo sem luz, imobilizado por uma impotência de ser apenas um ponto. Mas, vendo-o de perto, podia-se ver claramente a sua impaciência – a impaciência de um explorador que acaba de encontrar algo extremamente raro. Algo que há muitos anos fora enterrado para não ser descoberto, até que finalmente tudo havia perfeito sentido. Para se descobrir o segredo de uma Montanha, é preciso entrar no fundo de sua intimidade... Esqueci de dizer, lembrou-se assustado, de que esta Montanha parece sofrer, pois o modo como olhá-la a transforma com violência... uma Montanha só deseja ser montanha... quer se estabilizar diante da instabilidade de um olhar, concluiu entrando na primeira estrada da encosta. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >“Há sempre o que descobrir”, lembrou-se do comerciante. Mas agora, até mesmo o comerciante dormia aquém daquela Montanha. Voltando para si mesmo, percebeu que era ele, apenas ele, que de tantos olhares lançado a Montanha, agora ele a compreendia. Ainda queria dizer mais coisas para o irmão, naquela carta. <i style="mso-bidi-font-style:normal">“Mas até agora a Montanha fora inexplorada. Porque ninguém a encarou cheio de vontade e força. A Montanha é solitária porque ninguém quis dar-lhe as mãos! Morre-se aos seus pés por falta de compreensão. Realmente, vendo-a de perto, a Montanha é uma abstração: ela se faz em linhas agudas até o topo do céu e se desfaz em cascatas estridentes. Você é o segredo da Montanha – mas a Montanha não guarda segredo algum. A montanha é. Você é. É o quê?”</i><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >A Montanha por um momento sorriu. Até que se envolveu em si mesma. O que a Montanha é? perguntou-se com riso irônico. O que você é? e quase como um autômato, seguiu dentro da estrada. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >E então finalmente entrou na Montanha...<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><o:p><span class="Apple-style-span" > </span></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" align="right" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >17 de Julho de 2011<o:p></o:p></span></span></i></p> <p class="MsoNormal" align="right" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="font-family: Arial, sans-serif; "><span class="Apple-style-span" >20 de julho de 2011</span><span class="Apple-style-span" ><o:p></o:p></span></span></i></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-91639411297682224162011-04-20T19:15:00.001-03:002011-04-20T19:16:20.505-03:00Marabastado.<span class="Apple-style-span" ><i>Ao poeta-pastor de sonhos Pedro Takahashi. </i></span><div><span class="Apple-style-span" ><i><br /></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; ">Esta terra está seca. Sim senhor. É só o vento passar que a poeira se levanta. A gente enxerga as coisas com lágrimas nos olhos. A luz do sol arde. Sim – atravessa todo ardentemente o cristalino tremeluzente que vai escorrendo... – não, meu senhor, não estou enganado. Este amarelão que vai brotando do escuro e vai se fazendo no horizonte até que a cara toda fica arrebatada – Eita Marabastado! – as cores se fundem, vão rodopiando num turbilhão, o sol se desmancha num quadro em branco senhor! Este som de violoncelo, tão plangente – retirante humilde e plangente – tão assim desse jeito: sisudo, olhando de viés, a cara abaixada, só olhando para os pés cascudos e sujos; as unhas grossas e compridas. Não fala nesse tom não, meu senhor, tão amarelado que parece até de noite! de tão escuro... </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; ">... mas este cristal já antigo, empoeirado que vai se empolando nas reentrâncias escuras e inexploradas de um mundo tão desajeitado. E você vem me dizer que tudo está assim: quase que normal? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; ">Mas a terra tá seca lá do outro lado. A gente atravessa mares – Sim, Marabastado! – e o gado fica lá perdido no meio da relva de pedra. A gente ancora na terra úmida e deixa pra trás a solidão do amarelo entorpecido extasiando as sombras desfeitas em lembranças. Até que a gente chega na outra ponta da montanha e a luz do sol é tão outra que se esparrama retumbante em sete cores do prisma azulado do céu morno. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; ">Mas lá também o rebanho secou, meu senhor. E agora? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; ">A gente constrói cercas para que nada fuja até que tudo vai ficando cinzento: uma fumaça nublando as estrelas à noite, as rosas murcham nos vasos e a gente vai se esquecendo no caminho. Maltrapilhos. Retirantes de terras de solombra. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; ">Está tudo cinzento? Ou tudo é um sonho? </p></span></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-1985202513060773852011-03-07T00:10:00.001-03:002011-03-07T00:12:03.341-03:00Quintas paralelas...<div><span class="Apple-style-span" ><i>para Rafael Xicão. </i></span></div><span class="Apple-style-span" >... é quando meus dedos deslizam nas teclas do piano tentando buscar o seu sorriso cheio de espanto.</span>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-58275673640915704432011-02-24T20:15:00.002-03:002011-02-24T20:20:08.225-03:00Primeiro Ato.<span class="Apple-style-span" >e então ele se arrastou lentamente, saindo da mornidão da penumbra que encobria o palco nu, e como se houvesse apenas o silêncio, toda a plateia pareceu imobilizar-se com a cara enviesada mas os olhos brilhantes... ele continuou a se arrastar até que de repente não mais e de repente mais que jamais um turbilhão arrastou a poeira que enfraquecia no esgar da noite - uma gota escarlate de sangue àquela hora era tão púrpura que um olho esgazeado espiou com medo e um brilho emergiu dos lábios macios do sangue que agora era pálido - e assim as cortinas se fecharam...</span>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-56581059880735151502011-01-31T20:53:00.001-02:002011-01-31T20:53:52.870-02:00<b>O amor é só um modo de olhar. </b>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-75084722326473331182011-01-28T23:38:00.000-02:002011-01-28T23:39:48.925-02:00Conto Incacabado - II<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >“Na loucura eu me desprendo do desejo”, </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >abriu a cortina e o amarelo-cinzento esparramou-se no silêncio; a poeira se ergueu e rodopiou no ar seco até que as narinas se dilataram ressequidas... uma explosão de cores se movimentavam no chão sem sombra – virgem; </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >“Na dor eu renego a carne”, </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- preciso ouvir Bach, pensou; mas ainda era tarde e o sol estava fosco e os pássaros emudeceram porque o dia lembrava a noite – o negro se dissolveu no branco e o céu desenrolou-se cinza; </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >“E no amor eu renego a solidão”,</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >cansou de escrever, deixou o lápis de lado. Precisava trabalhar – ainda queria chegar a tempo para o jantar, beijar a esposa, botar os filhos na cama... mas se o próximo paciente fosse o último de seu expediente talvez ainda desse tempo de conceber uma exceção quase única: não voltar para casa exatamente às seis da tarde... quem sabe caminhar um pouco? esquecer dos dias compridos... não, Sou velho, pensou – pois a idade parecia as rédeas que o retesavam; alguma coisa dentro de si partira com o passar dos anos: os ventos eram outros, agora só lhe restava as cinzas das horas consumadas na longa espera, a vigília de sonâmbulo... nem mesmo o prazer o libertaria do sofrimento arraigado no seu coração... mas se talvez se excitasse com alguma moça no meio da praça? pensou bruscamente... mas seria traição – no entanto, traição parecia uma palavra falsa: trair o quê? Estaria traindo apenas a minha raça de homem... – e aquele dia seria único entre tantos que pareciam iguais – “já imaginou?”, pensou – “cada gota do mar é igual a outra?”, e logo sentiu que afundaria no seu próprio mar... o retrato da esposa sobre a mesa, espiando espiando, aquele rosto fino e o nariz reto – e os olhos olhando obliquamente como a apontar-lhe o dedo no rosto parecendo adivinhar seus pensamentos</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >(“... e no amor eu renego a solidão...”)</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >passou a língua nos lábios e a sua garganta estava áspera, Que sede, pensou; a tarde fria e seca entrava pela janela e invadia o consultório, procurou confortar-se na poltrona porque de repente irritou-se consigo mesmo, Merda, mas antes que pudesse fazer qualquer gesto ouviu três pancadas na porta, era a Secretária, então abriu a porta e um rosto escuro apareceu, Seu próximo paciente chegou Doutor, mando entrar? Sim, por favor, e a Secretária desapareceu no escuro do corredor e seus passos eram redondos e reverberava entre os móveis entre o lustre que pendia no teto, Estou mas é cansado, e estalou os dedos...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >não queria atender ninguém logo logo era ele que iria precisar de um psicólogo urgentemente porque as pessoas estavam irritando-o cada vez mais, E eu lá com os problemas dos outros!, Não não – pensou – não posso fugir de mim, ainda me resta a sobriedade, a esperança – pois cada um é um mundo </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >“É preciso buscar/</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p><span class="Apple-style-span" > </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Olá Doutor!;</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >... o óculo do Médico deslizou até a ponta do nariz; largou o lápis – a frase inconcluída..., Por Favor, sente-se...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- E então, qual é o seu problema?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Nenhum.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >... o preto e o branco – as cores... como numa palheta, fundiram-se e cobriram o consultório... Eu é que nunca entendo... não entendo. Simples. “As pessoas”, começou a anotar na sua agenda, “são apenas um borrão...”; eu talvez seja apenas uma mancha...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Bem Doutor, o problema não é comigo... é com ele... conta pra ele André!</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >Um caso de esquizofrenia, talvez. As coisas as pessoas são tão simples assim às vezes – vagas vezes são estúpidas quanto a própria Natureza: previsíveis... esse aí eu não me demoro... </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- E qual é o problema dele?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Bem Doutor... acho que o senhor não vai entender... nunca ninguém entende...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >(Em <i>litteris</i>: as pessoas são estúpidas. Sim senhor.)</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Os dias têm estado muito escuros freqüentemente... por que nada é nada? As coisas não poderiam ser mais simples? Não, não Doutor, é isso. O nem mesmo o senhor poderá entender... acho que falta por o pingo nos <i>iis</i>. Ou é ou não é. Ou é oito ou oitenta... agora André me segue dia e noite como um encosto... dia e noite... dia e noite... não é engraçado isso? Nem mesmo o dia anda junto com a noite. As coisas foram feitas para a solidão. Nem sol nem lua juntas... óleo não se mistura com água... </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >Mas e o preto no branco? pensou o Doutor. Suaves linhas brancas começaram a se erguer verticalmente dentro de si; suaves e mansas... até que se desfaziam em cascatas no alto... lembrou-se do dia em que foi a uma ilha passar suas férias – o farol, o holofote amarelo-pálido como o sol, a luneta com a lente trincada, os navios naufragando no horizonte – mas isso era loucura... </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Doutor, o André precisa de ajuda... ele tem medo, Doutor...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Do que André tem medo?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Do buraco.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Buraco?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- É, Doutor, do Buraco. Agora é todo dia: vai anoitecendo e um buraco vem se aproximando cada vez mais dele... ele foge em disparada, parece um cavalo em pânico correndo no campo, mas o buraco vem vem vem... de mansinho... vem também o frio... quando o buraco fica mais perto, ele se agarra a qualquer coisa que vê pela frente... André não pode ficar mais sozinho... será que terei que cuidar dele? isso é muito pesado pra mim... cuidar de alguém... isso é tão mais incômodo quanto me ser alguém... </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >... alguém poderia abismar facilmente num buraco onde as sombras refrescam... e eu também não sei o que penso... “Tudo não passa de um símbolo”, escreveu na agenda. Preciso de um breve lampejo de apaziguamento... como aquele dia... foi só um beijo e nada mais nada de romantismo... estou fugindo, não fuja, não fuja...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- ... e tem também os sonhos, Doutor. Os sonhos. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >(Claro! os sonhos... na faculdade, o meu professor costumava a repetir: “O sonho representa a realização de um desejo”. Freud?)</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- eles são horríveis, ele sempre acorda gritando, suando... até que desmaia...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >(e quando espiei pela luneta os barquinhos afundando no horizonte? o mar parecia um sonho...) não fuja: mas esse ai não parece esquizofrênico...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Objetos sólidos..., não! Doutor, e as cores? Esquecemos das cores, fingimos que tudo é branco, que tudo é preto. De dia é amarelo e de noite é azul escuro... mas as cores, Doutor? até nas bolhas de sabão... as cores atravessam seu ponto de contato e as cores se transformam... </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >“Nada se perde nada se cria tudo se transforma”, até eu meu Deus não escapo minha mulher me disse uma vez, Você não é eterno, e por quê não? sou a imagem e semelhança de Deus e sempre me renovo... e quando eu encontrei escondidas nas sombras ela, eu não esperava que fossemos... as ondas repicavam o mar soturno... até que a tempestade rasgou a madrugada e um raio partiu nosso mundo em dois...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Não sei, Doutor... as cores nos transformam em objetos sólidos, até mesmo André concorda comigo... André??</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; font-size: small; ">- Você tem dormido bem?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Eu sim, mas...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Tem estado muito ansioso?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Não,mas...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Toma algum tipo de drogas?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Nenhuma, mas...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Fez algum...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Doutor, os sonhos. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Que sonhos?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- Do André...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >(...talvez... será alucinações?...)</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- O que tem eles?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >- André tem medo, Doutor. Já disse...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >... o mar afunda o barquinho, a baía se apazigua com a brisa da noite, o farol se apaga... eu preciso dessa brisa... a noite mansa... foi no farol aquele beijo... não havia um rosto me espiando e me despindo – só os lábios... os meninos dormindo com a mãe e a chuva rebentava entre as coisas... a brisa nos envolveu e eu beijei seus lábios...</span></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-7902756727671416792011-01-28T23:35:00.001-02:002011-01-28T23:37:08.851-02:00Conto Incacabado - I<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><i><span class="Apple-style-span" >[CRÔNICA APÓCRIFA DE MARIA MADALENA]</span></i></p> <p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; font-size: small; ">A forma se concebeu através do caos – milhões e milhões formas praticamente infinitas sucederam-se em rajadas de luz e vento – em solidão e silêncio... até que a noite grande apaziguou a grande agitação fez formar então o primeiro gesto – o verbo – e assim se fez o mundo – porque assim Deus o quis – no primeiro dia a luz não raiou porque a palavra de Deus ainda reverberava entre os vales e montes – entre as rochas nuas e os grandes desfiladeiros – entre um grão e outro de areia na praia seca – pois a Terra foi antes de mais nada apenas uma coisa inacabada em seu princípio – pois assim que Deus quis – até que o silêncio cobriu toda a imensidão vazia da escuridão e o medo o terror e a truculência das sombras alimentaram o ódio que germinou nas profundezas das rochas – e Deus vendo que a malignidade se instalava em sua terra disse Haja Luz e então houve luz – e logo depois houve o dia e a noite – o mar e terra – o vento – as árvores e os animais – até que Deus concebeu o primeiro homem e deu-lhe o nome de Adão – este seria a imagem e semelhança do Criado – e Deus achou que era bom;</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >e por isso Deus criou a mulher a partir da costela de Adão e chamou-a de Eva – e Deus viu que era bom – mas Eva era um nome que sibilava na boca de Adão como o rastejar de uma serpente ssssshhhhhhhh – como as águas que se agitam no mar – Eva era um nome que era fresca como uma noite de ébano e quente como a lua límpida na calidez da madrugada – mas tudo ia bem – porque Deus concebeu a vida – e a vida gerava a vida – e Deus viu que era bom – o que Deus queria afinal? –</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >até que houve um dia que num instante bilhões e bilhões de anos pareceram estilhaçar-se em pedaços tão pequenos que a estes só restou a tragédia Divina e Diabólica – amaldiçoado seja aquele cuja a palavra seja o silêncio – derrama-se o sangue nas grandes tragédias – e Eva, tendo traído o paraíso, lavou com sangue o fruto do seu ventre – Amém! – e restou a marca de seu sangue sobre o leito do rio vagaroso sempre a escorrer escorregando como uma manta branca um véu quem sabe mas não mais límpido nunca mais branco violado amordaçado pelo pecado capital mas do quê? de sentir o prazer na carne e</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >assim passaram-se muitos e muitos anos e eu – também gerada do mesmo gérmen de vida; nasci; pois um Anjo não como o de Maria, mãe de Jesus, mas sim um Anjo tosco e malfadado talvez cansado de tanto trabalho nesta Terra de ímpios apareceu à minha mãe e disse Vá e Sê mulher, e tu terás uma rebenta, filha de teu ventre, carne de tua carne e sangue de teu sangue, foram essas as palavras do Anjo torto disse minha mãe – e por isso fui chamada de Maria Madalena – pois Maria tornara-se um presságio de boa sorte mesmo sem saber que Cristo ainda seria reencarnado no ventre da Maria Altíssima – mas a mim restara nos meus primeiros instantes ainda no vente de minha mãe a sina de ser mulher carregar o véu branco sobre a cabeça e pendurar a estrela mais pura como gelo sobre o peito – submissão e devoção – essa é a missão de mulher que caleja e trabalha para a humildade e o amor – porque a mulher só resta o amor e a piedade meu Deus ai de nós entre as mulheres – porém um Anjo (terá sido o mesmo que aparecerá à minha mãe?) anunciara, Pois vá mulher: segue tua cruz! </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >E tendo transcorrido nove meses eis que a luz brota no ventre de uma entre tantas outras mulheres prenhas na face da Terra – foi numa tarde seca e lânguida de sábado e as galinhas ciscavam e as vacas mugiam e os cavalos corriam na terra batida e minha mãe na grande sede e glória tornou-se mulher e me pariu sob a sombra de uma velha árvore infrutífera – nasci de um grito e tendo nascido passei a existir a minha vida que seria apenas um ruído até o Grande Dia – mas sendo estas crônicas de palavras enxutas e as mais curtas possíveis terei que omitir parte de minha vida já que não tenho função nenhuma nesta História a não ser a de pecadora – mesmo perdoada; e lavado meu corpo com o perdão a marca do Pecado reside como uma cicatriz em meu peito de rapina ferida – </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >porém houve um dia em que me achei mulher feita e encontrei entre minhas pernas uma flor negra que brotava no abraço de meu corpo um arrepio tão frio e solene que eu quase chorava de uma emoção tão misteriosa que desabava em delírio – fez-me lembrar da árvore retorcida da qual nasci e que as sombras do pôr-do-sol revolviam as folhas secas em suaves cores do vermelho-amarelo-pálido – esquálido – dos olhos de Deus; e sendo assim com um estremecimento de corpo e alma eu vivia e um Pastor me disse, O prazer da carne é a purificação da alma, mas eu não sabia o que era Prazer – enveredei-me em seus mistérios sem-saber-como mas um dia eu desbotei como uma Rosa vermelha-sangue e os meus olhos refulgiram como o ébano e meus lábios estremeceram como um riacho e minhas pestanas esvoaçaram como pássaros; e minha mãe me disse, Sobre o mundo existe apenas um Deus, minha filha, e esse Deus é todo amor é todo perdão misericordioso e é só Nele que purificamos a alma, foi então que resolvi me devotar a Deus pois o que era aquela força selvagem pulsante em meu peito quase a arrebentar em violência? eu me perguntava e andava na relva olhando o vento agitar as águas tranqüilas correrem no regato e também o farfalhar das folhas suculentas e eu andava sem pensar porque o pensamento era tão mais forte do que eu que era preciso não deixar me esmagar com sua lassidão – e a brisa da noite amornava meu corpo (seria febre?) – até que a madrugada vinha como um ladrão e a lua me envolvia como um véu – tenho dentro de mim uma pira de óleo ungido, pensava, e também incensos e jóias e oferendas, tenho dentro de mim a vastidão de um mistério que se mantém guardado a sete chaves na própria natureza: ser Mulher! não humana pois longe disso sou apenas mulher a quem um Anjo Torto me condenara a ser e então eu me-sou! mas o óleo que tenho a oferecer? em sacrifício de mim mesma eu não sou o que poderia ser para me ser pois sei que tenho dentro de mim talvez sete pilares perfeitos no qual eu me Adoro mas e as árvores a água do regato os pássaros o cão que ladra a vaca que muge os homens que gritam as mulheres que dão a luz? um redemoinho enveredou-se na estrada de terra levantando a poeira e fundindo as cores que se esparramavam no céu quase azul-quase-branco e uniu as coisas cada vez mais até que se transformassem em uma única coisa – coisa única talvez seja existir e sentir o que se sente quando se vive e talvez o mundo seja todo este turbilhão e todas estrelas e todas as cores além da noite e dia e da aurora e do crepúsculo e seu hiato – vielas e violas emitem seus acordes que se propagam através do silêncio e eu me descubro nova como uma recém-nascida – e eu busquei o Pastor que me disse que o prazer purifica a alma – quis cantar uma música para embalar sua tristeza escondida atrás do azul de seus olhos mas as nuvens se deitam e ameaça a chuva – e se chover? purificar-me-ei sentindo meu corpo absolvido e se integrando... se integrando... ao mundo porque tudo é um e se Deus existe sei que Ele está dentro de mim e tudo é um... tudo é um tudo é um tudo é um... a música sempre se desenvolve no mesmo compasso então tudo é um... os pássaros pululam nas árvores e um rio corre dentro de mim porque tudo é um... eu sou Mulher de um mundo de Homem – Única – e os Homens me devoram a quem eu devo devotar os meus desejos? porque sou mulher e procuro o meu véu perdido as rosas derramam-se sobre meu leito e sendo assim digo Amém Amém Amém </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >e tendo acontecido tais coisas senti-me Única e a Vida pulsava dentro de mim – busquei o Pastor em seu campo a pastorear as ovelhas e ele me olhou como uma fera e que tem sede e eu o olhei como uma fera e que tem fome – pois a vida era demais para mim e eu – Única – descobri como uma força no mundo , Sê Mulher, disse-me o Anjo, e então lancei aos braços do Pastor que me envolveu em seus braços – seus olhos crisparam-se e os meus também porque o Mundo era feito da entrega e, sendo assim, o mundo é propulsor da vida em si mesmo e eu deitei na relva porque era bom – o sangue de Eva derramou-se mais uma vez sobre o meu corpo cálido que agora eu não era apenas um corpo – era a integração, Sê Mulher, disse o Anjo Torto sem sorriso e sem placidez mas sim solenemente como o rufar de tambores – a qualidade mulher é ser Mulher – então eu me entreguei ao Pastor porque havia o amor e o prazer e eram criação do Deus – pois Ele viu que era bom; </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >tendo acontecido tais coisas foi então que me entreguei aos prostíbulos – e eu vi que era bom; Sê Mulher, mas não fora o Anjo, agora me era porque me sou então eu fui – mas um dia apareceu em meu quarto um homem humilde e magro e tinha os pés sujos e as mãos sujos mas seus olhos refulgiam como a nascente de um rio e seus olhos eram vermelhos como as frutas doces no pomar – e ele me disse, Eu sou André e vim aqui para que me ensines o fruto da vida, e assim foi – tendo passado a noite o homem humilde deitou-se em minha cama e ele disse que era bom – </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >passado outro dia a noite chegara como um ladrão e também um homem não tão humilde e vi que ele era o cobrador de impostos da cidade e me disse, meu nome é Levi e vim aqui para que me ensines o mapa do desejo, </span></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-70101326990069456072011-01-04T20:03:00.002-02:002011-01-04T20:17:51.159-02:00xiiii penicou<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i>À Pri Oliveira, a quem deu muitas saudades. </i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><span class="Apple-style-span" ><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><span class="Apple-style-span" >Faz tanto tempo que não chove. Hoje choveu. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Larguei o paletó sobre o sofá. Fechei as cortinas. Apaguei a luz.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Minha Senhora, o rádio vem falhando há alguns dias <i>ch ch ch ch ch ch</i> </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >mas acho que é a tempestade que vem se anunciando com as nuvens</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >cinzentinhas; restos do meu cigarro. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Lembra daquela vez? Você me disse:</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >- Há tantas coisas não ditas... palavras soltas no ar...</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Eu não respondi. Fiz-me de entendido.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >"Besteira". </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Senhorinha! </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Estava tão certa! <i>Tap!</i> dou um tapinha na minha testa... às vezes a gente prefere</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >comer de garfo e faca - e por que não comer com a mão?</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Senhora,</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >não ligue!</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Acho que bebi demais... </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Você se curvou sobre o escuro mas seus olhos ainda estavam em pé:</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >- No mínimo perdidas entre os olhos fundos profundos...</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Coloquei meus óculos escuros. Minhas olheiras eram roxas demais -</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >esqueci de regar o canteiro de violetas;</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Um realejo tocava lá fora - lembra Senhorinha? - e você disse:</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >- Não me leve a mal, são doces. Só não sabem lidar com o açúcar. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Sim senhora. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >De tanto que é doce que perdi o ponto. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >E agora? xiiii penicou.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Só me resta remendar às minhas calças rasgadas...</span></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-74709198445236935652011-01-02T20:54:00.002-02:002011-01-02T20:58:16.788-02:00Palavra.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small; "><blockquote></blockquote>Eu tenho um nó na garganta.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Preso à língua, rente ao céu da boca,</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >algo tão úmido e seco, azulzinhamente</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >cortando o oco silêncio </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >da minha mudez. </span></div><div><span class="Apple-style-span" ></span></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-50026036675469921582010-12-26T18:52:00.002-02:002010-12-26T18:57:59.513-02:00Azul-Amarelo.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >A tarde caiu e a hora ficou nua, o Sol obedece seu ritmo meu bem, ele disse porque ela baixara os olhos de uma maneira tão triste, parecia um pássaro ferido... e foi assim: o azul pingou no mais branco pálido do céu até que se esparramou entre as veredas do silêncio; apareceram os primeiros vaga-lumes, é a vida meu bem, ele repetia porque os cachos do cabelo dela ondularam, estou mais é cansada, disse ela finalmente porque ele exigia uma resposta,</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >ela olhou para o céu; rósea-vítreo no côncavo de seu corpo - tudo pareceu desabar no azul-amarelo o crepúsculo... até que ela adormeceu... </span></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-49127016666157513942010-12-26T00:47:00.000-02:002010-12-26T00:48:20.315-02:00Sim.<p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" ><i>Para Jéssica L.A.</i></span></p><p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" >A água é fria, apago a luz, abro a cortina e a lua sorri – Vem, diz uma voz... não sei, sinto um frio e um calor - o coração célere e selvagem; um urro, uma chama apenas restando no final da canção – a palavra solta na língua e de repente um céu de borboletas brancas e macias se espargem na calidez do silêncio – as estrelas são de cristal, um grito ecoa por toda a parte, Ah!, grita um pássaro, eu abro meu corpo e me renasço inteiriço e te digo</span></p> <p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" >- É NATAL. </span></p>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5964412209822518867.post-48324728952768660032010-12-25T19:48:00.000-02:002010-12-25T19:49:25.646-02:00Natal.<span class="Apple-style-span" >Ontem me faltava a voz.</span><div><span class="Apple-style-span" >Hoje me falta a poesia.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Amanhã me faltará a vida. </span></div>O Cronistahttp://www.blogger.com/profile/07247002539512308040noreply@blogger.com0