quarta-feira, 20 de abril de 2011

Marabastado.

Ao poeta-pastor de sonhos Pedro Takahashi.

Esta terra está seca. Sim senhor. É só o vento passar que a poeira se levanta. A gente enxerga as coisas com lágrimas nos olhos. A luz do sol arde. Sim – atravessa todo ardentemente o cristalino tremeluzente que vai escorrendo... – não, meu senhor, não estou enganado. Este amarelão que vai brotando do escuro e vai se fazendo no horizonte até que a cara toda fica arrebatada – Eita Marabastado! – as cores se fundem, vão rodopiando num turbilhão, o sol se desmancha num quadro em branco senhor! Este som de violoncelo, tão plangente – retirante humilde e plangente – tão assim desse jeito: sisudo, olhando de viés, a cara abaixada, só olhando para os pés cascudos e sujos; as unhas grossas e compridas. Não fala nesse tom não, meu senhor, tão amarelado que parece até de noite! de tão escuro...

... mas este cristal já antigo, empoeirado que vai se empolando nas reentrâncias escuras e inexploradas de um mundo tão desajeitado. E você vem me dizer que tudo está assim: quase que normal?

Mas a terra tá seca lá do outro lado. A gente atravessa mares – Sim, Marabastado! – e o gado fica lá perdido no meio da relva de pedra. A gente ancora na terra úmida e deixa pra trás a solidão do amarelo entorpecido extasiando as sombras desfeitas em lembranças. Até que a gente chega na outra ponta da montanha e a luz do sol é tão outra que se esparrama retumbante em sete cores do prisma azulado do céu morno.

Mas lá também o rebanho secou, meu senhor. E agora?

A gente constrói cercas para que nada fuja até que tudo vai ficando cinzento: uma fumaça nublando as estrelas à noite, as rosas murcham nos vasos e a gente vai se esquecendo no caminho. Maltrapilhos. Retirantes de terras de solombra.

Está tudo cinzento? Ou tudo é um sonho?

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