segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O amor é só um modo de olhar.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Conto Incacabado - II

“Na loucura eu me desprendo do desejo”,

abriu a cortina e o amarelo-cinzento esparramou-se no silêncio; a poeira se ergueu e rodopiou no ar seco até que as narinas se dilataram ressequidas... uma explosão de cores se movimentavam no chão sem sombra – virgem;

“Na dor eu renego a carne”,

- preciso ouvir Bach, pensou; mas ainda era tarde e o sol estava fosco e os pássaros emudeceram porque o dia lembrava a noite – o negro se dissolveu no branco e o céu desenrolou-se cinza;

“E no amor eu renego a solidão”,

cansou de escrever, deixou o lápis de lado. Precisava trabalhar – ainda queria chegar a tempo para o jantar, beijar a esposa, botar os filhos na cama... mas se o próximo paciente fosse o último de seu expediente talvez ainda desse tempo de conceber uma exceção quase única: não voltar para casa exatamente às seis da tarde... quem sabe caminhar um pouco? esquecer dos dias compridos... não, Sou velho, pensou – pois a idade parecia as rédeas que o retesavam; alguma coisa dentro de si partira com o passar dos anos: os ventos eram outros, agora só lhe restava as cinzas das horas consumadas na longa espera, a vigília de sonâmbulo... nem mesmo o prazer o libertaria do sofrimento arraigado no seu coração... mas se talvez se excitasse com alguma moça no meio da praça? pensou bruscamente... mas seria traição – no entanto, traição parecia uma palavra falsa: trair o quê? Estaria traindo apenas a minha raça de homem... – e aquele dia seria único entre tantos que pareciam iguais – “já imaginou?”, pensou – “cada gota do mar é igual a outra?”, e logo sentiu que afundaria no seu próprio mar... o retrato da esposa sobre a mesa, espiando espiando, aquele rosto fino e o nariz reto – e os olhos olhando obliquamente como a apontar-lhe o dedo no rosto parecendo adivinhar seus pensamentos

(“... e no amor eu renego a solidão...”)

passou a língua nos lábios e a sua garganta estava áspera, Que sede, pensou; a tarde fria e seca entrava pela janela e invadia o consultório, procurou confortar-se na poltrona porque de repente irritou-se consigo mesmo, Merda, mas antes que pudesse fazer qualquer gesto ouviu três pancadas na porta, era a Secretária, então abriu a porta e um rosto escuro apareceu, Seu próximo paciente chegou Doutor, mando entrar? Sim, por favor, e a Secretária desapareceu no escuro do corredor e seus passos eram redondos e reverberava entre os móveis entre o lustre que pendia no teto, Estou mas é cansado, e estalou os dedos...

não queria atender ninguém logo logo era ele que iria precisar de um psicólogo urgentemente porque as pessoas estavam irritando-o cada vez mais, E eu lá com os problemas dos outros!, Não não – pensou – não posso fugir de mim, ainda me resta a sobriedade, a esperança – pois cada um é um mundo

“É preciso buscar/

- Olá Doutor!;

... o óculo do Médico deslizou até a ponta do nariz; largou o lápis – a frase inconcluída..., Por Favor, sente-se...

- E então, qual é o seu problema?

- Nenhum.

... o preto e o branco – as cores... como numa palheta, fundiram-se e cobriram o consultório... Eu é que nunca entendo... não entendo. Simples. “As pessoas”, começou a anotar na sua agenda, “são apenas um borrão...”; eu talvez seja apenas uma mancha...

- Bem Doutor, o problema não é comigo... é com ele... conta pra ele André!

Um caso de esquizofrenia, talvez. As coisas as pessoas são tão simples assim às vezes – vagas vezes são estúpidas quanto a própria Natureza: previsíveis... esse aí eu não me demoro...

- E qual é o problema dele?

- Bem Doutor... acho que o senhor não vai entender... nunca ninguém entende...

(Em litteris: as pessoas são estúpidas. Sim senhor.)

- Os dias têm estado muito escuros freqüentemente... por que nada é nada? As coisas não poderiam ser mais simples? Não, não Doutor, é isso. O nem mesmo o senhor poderá entender... acho que falta por o pingo nos iis. Ou é ou não é. Ou é oito ou oitenta... agora André me segue dia e noite como um encosto... dia e noite... dia e noite... não é engraçado isso? Nem mesmo o dia anda junto com a noite. As coisas foram feitas para a solidão. Nem sol nem lua juntas... óleo não se mistura com água...

Mas e o preto no branco? pensou o Doutor. Suaves linhas brancas começaram a se erguer verticalmente dentro de si; suaves e mansas... até que se desfaziam em cascatas no alto... lembrou-se do dia em que foi a uma ilha passar suas férias – o farol, o holofote amarelo-pálido como o sol, a luneta com a lente trincada, os navios naufragando no horizonte – mas isso era loucura...

- Doutor, o André precisa de ajuda... ele tem medo, Doutor...

- Do que André tem medo?

- Do buraco.

- Buraco?

- É, Doutor, do Buraco. Agora é todo dia: vai anoitecendo e um buraco vem se aproximando cada vez mais dele... ele foge em disparada, parece um cavalo em pânico correndo no campo, mas o buraco vem vem vem... de mansinho... vem também o frio... quando o buraco fica mais perto, ele se agarra a qualquer coisa que vê pela frente... André não pode ficar mais sozinho... será que terei que cuidar dele? isso é muito pesado pra mim... cuidar de alguém... isso é tão mais incômodo quanto me ser alguém...

... alguém poderia abismar facilmente num buraco onde as sombras refrescam... e eu também não sei o que penso... “Tudo não passa de um símbolo”, escreveu na agenda. Preciso de um breve lampejo de apaziguamento... como aquele dia... foi só um beijo e nada mais nada de romantismo... estou fugindo, não fuja, não fuja...

- ... e tem também os sonhos, Doutor. Os sonhos.

(Claro! os sonhos... na faculdade, o meu professor costumava a repetir: “O sonho representa a realização de um desejo”. Freud?)

- eles são horríveis, ele sempre acorda gritando, suando... até que desmaia...

(e quando espiei pela luneta os barquinhos afundando no horizonte? o mar parecia um sonho...) não fuja: mas esse ai não parece esquizofrênico...

- Objetos sólidos..., não! Doutor, e as cores? Esquecemos das cores, fingimos que tudo é branco, que tudo é preto. De dia é amarelo e de noite é azul escuro... mas as cores, Doutor? até nas bolhas de sabão... as cores atravessam seu ponto de contato e as cores se transformam...

“Nada se perde nada se cria tudo se transforma”, até eu meu Deus não escapo minha mulher me disse uma vez, Você não é eterno, e por quê não? sou a imagem e semelhança de Deus e sempre me renovo... e quando eu encontrei escondidas nas sombras ela, eu não esperava que fossemos... as ondas repicavam o mar soturno... até que a tempestade rasgou a madrugada e um raio partiu nosso mundo em dois...

- Não sei, Doutor... as cores nos transformam em objetos sólidos, até mesmo André concorda comigo... André??

- Você tem dormido bem?

- Eu sim, mas...

- Tem estado muito ansioso?

- Não,mas...

- Toma algum tipo de drogas?

- Nenhuma, mas...

- Fez algum...

- Doutor, os sonhos.

- Que sonhos?

- Do André...

(...talvez... será alucinações?...)

- O que tem eles?

- André tem medo, Doutor. Já disse...

... o mar afunda o barquinho, a baía se apazigua com a brisa da noite, o farol se apaga... eu preciso dessa brisa... a noite mansa... foi no farol aquele beijo... não havia um rosto me espiando e me despindo – só os lábios... os meninos dormindo com a mãe e a chuva rebentava entre as coisas... a brisa nos envolveu e eu beijei seus lábios...

Conto Incacabado - I

[CRÔNICA APÓCRIFA DE MARIA MADALENA]

A forma se concebeu através do caos – milhões e milhões formas praticamente infinitas sucederam-se em rajadas de luz e vento – em solidão e silêncio... até que a noite grande apaziguou a grande agitação fez formar então o primeiro gesto – o verbo – e assim se fez o mundo – porque assim Deus o quis – no primeiro dia a luz não raiou porque a palavra de Deus ainda reverberava entre os vales e montes – entre as rochas nuas e os grandes desfiladeiros – entre um grão e outro de areia na praia seca – pois a Terra foi antes de mais nada apenas uma coisa inacabada em seu princípio – pois assim que Deus quis – até que o silêncio cobriu toda a imensidão vazia da escuridão e o medo o terror e a truculência das sombras alimentaram o ódio que germinou nas profundezas das rochas – e Deus vendo que a malignidade se instalava em sua terra disse Haja Luz e então houve luz – e logo depois houve o dia e a noite – o mar e terra – o vento – as árvores e os animais – até que Deus concebeu o primeiro homem e deu-lhe o nome de Adão – este seria a imagem e semelhança do Criado – e Deus achou que era bom;

e por isso Deus criou a mulher a partir da costela de Adão e chamou-a de Eva – e Deus viu que era bom – mas Eva era um nome que sibilava na boca de Adão como o rastejar de uma serpente ssssshhhhhhhh – como as águas que se agitam no mar – Eva era um nome que era fresca como uma noite de ébano e quente como a lua límpida na calidez da madrugada – mas tudo ia bem – porque Deus concebeu a vida – e a vida gerava a vida – e Deus viu que era bom – o que Deus queria afinal? –

até que houve um dia que num instante bilhões e bilhões de anos pareceram estilhaçar-se em pedaços tão pequenos que a estes só restou a tragédia Divina e Diabólica – amaldiçoado seja aquele cuja a palavra seja o silêncio – derrama-se o sangue nas grandes tragédias – e Eva, tendo traído o paraíso, lavou com sangue o fruto do seu ventre – Amém! – e restou a marca de seu sangue sobre o leito do rio vagaroso sempre a escorrer escorregando como uma manta branca um véu quem sabe mas não mais límpido nunca mais branco violado amordaçado pelo pecado capital mas do quê? de sentir o prazer na carne e

assim passaram-se muitos e muitos anos e eu – também gerada do mesmo gérmen de vida; nasci; pois um Anjo não como o de Maria, mãe de Jesus, mas sim um Anjo tosco e malfadado talvez cansado de tanto trabalho nesta Terra de ímpios apareceu à minha mãe e disse Vá e Sê mulher, e tu terás uma rebenta, filha de teu ventre, carne de tua carne e sangue de teu sangue, foram essas as palavras do Anjo torto disse minha mãe – e por isso fui chamada de Maria Madalena – pois Maria tornara-se um presságio de boa sorte mesmo sem saber que Cristo ainda seria reencarnado no ventre da Maria Altíssima – mas a mim restara nos meus primeiros instantes ainda no vente de minha mãe a sina de ser mulher carregar o véu branco sobre a cabeça e pendurar a estrela mais pura como gelo sobre o peito – submissão e devoção – essa é a missão de mulher que caleja e trabalha para a humildade e o amor – porque a mulher só resta o amor e a piedade meu Deus ai de nós entre as mulheres – porém um Anjo (terá sido o mesmo que aparecerá à minha mãe?) anunciara, Pois vá mulher: segue tua cruz!

E tendo transcorrido nove meses eis que a luz brota no ventre de uma entre tantas outras mulheres prenhas na face da Terra – foi numa tarde seca e lânguida de sábado e as galinhas ciscavam e as vacas mugiam e os cavalos corriam na terra batida e minha mãe na grande sede e glória tornou-se mulher e me pariu sob a sombra de uma velha árvore infrutífera – nasci de um grito e tendo nascido passei a existir a minha vida que seria apenas um ruído até o Grande Dia – mas sendo estas crônicas de palavras enxutas e as mais curtas possíveis terei que omitir parte de minha vida já que não tenho função nenhuma nesta História a não ser a de pecadora – mesmo perdoada; e lavado meu corpo com o perdão a marca do Pecado reside como uma cicatriz em meu peito de rapina ferida –

porém houve um dia em que me achei mulher feita e encontrei entre minhas pernas uma flor negra que brotava no abraço de meu corpo um arrepio tão frio e solene que eu quase chorava de uma emoção tão misteriosa que desabava em delírio – fez-me lembrar da árvore retorcida da qual nasci e que as sombras do pôr-do-sol revolviam as folhas secas em suaves cores do vermelho-amarelo-pálido – esquálido – dos olhos de Deus; e sendo assim com um estremecimento de corpo e alma eu vivia e um Pastor me disse, O prazer da carne é a purificação da alma, mas eu não sabia o que era Prazer – enveredei-me em seus mistérios sem-saber-como mas um dia eu desbotei como uma Rosa vermelha-sangue e os meus olhos refulgiram como o ébano e meus lábios estremeceram como um riacho e minhas pestanas esvoaçaram como pássaros; e minha mãe me disse, Sobre o mundo existe apenas um Deus, minha filha, e esse Deus é todo amor é todo perdão misericordioso e é só Nele que purificamos a alma, foi então que resolvi me devotar a Deus pois o que era aquela força selvagem pulsante em meu peito quase a arrebentar em violência? eu me perguntava e andava na relva olhando o vento agitar as águas tranqüilas correrem no regato e também o farfalhar das folhas suculentas e eu andava sem pensar porque o pensamento era tão mais forte do que eu que era preciso não deixar me esmagar com sua lassidão – e a brisa da noite amornava meu corpo (seria febre?) – até que a madrugada vinha como um ladrão e a lua me envolvia como um véu – tenho dentro de mim uma pira de óleo ungido, pensava, e também incensos e jóias e oferendas, tenho dentro de mim a vastidão de um mistério que se mantém guardado a sete chaves na própria natureza: ser Mulher! não humana pois longe disso sou apenas mulher a quem um Anjo Torto me condenara a ser e então eu me-sou! mas o óleo que tenho a oferecer? em sacrifício de mim mesma eu não sou o que poderia ser para me ser pois sei que tenho dentro de mim talvez sete pilares perfeitos no qual eu me Adoro mas e as árvores a água do regato os pássaros o cão que ladra a vaca que muge os homens que gritam as mulheres que dão a luz? um redemoinho enveredou-se na estrada de terra levantando a poeira e fundindo as cores que se esparramavam no céu quase azul-quase-branco e uniu as coisas cada vez mais até que se transformassem em uma única coisa – coisa única talvez seja existir e sentir o que se sente quando se vive e talvez o mundo seja todo este turbilhão e todas estrelas e todas as cores além da noite e dia e da aurora e do crepúsculo e seu hiato – vielas e violas emitem seus acordes que se propagam através do silêncio e eu me descubro nova como uma recém-nascida – e eu busquei o Pastor que me disse que o prazer purifica a alma – quis cantar uma música para embalar sua tristeza escondida atrás do azul de seus olhos mas as nuvens se deitam e ameaça a chuva – e se chover? purificar-me-ei sentindo meu corpo absolvido e se integrando... se integrando... ao mundo porque tudo é um e se Deus existe sei que Ele está dentro de mim e tudo é um... tudo é um tudo é um tudo é um... a música sempre se desenvolve no mesmo compasso então tudo é um... os pássaros pululam nas árvores e um rio corre dentro de mim porque tudo é um... eu sou Mulher de um mundo de Homem – Única – e os Homens me devoram a quem eu devo devotar os meus desejos? porque sou mulher e procuro o meu véu perdido as rosas derramam-se sobre meu leito e sendo assim digo Amém Amém Amém

e tendo acontecido tais coisas senti-me Única e a Vida pulsava dentro de mim – busquei o Pastor em seu campo a pastorear as ovelhas e ele me olhou como uma fera e que tem sede e eu o olhei como uma fera e que tem fome – pois a vida era demais para mim e eu – Única – descobri como uma força no mundo , Sê Mulher, disse-me o Anjo, e então lancei aos braços do Pastor que me envolveu em seus braços – seus olhos crisparam-se e os meus também porque o Mundo era feito da entrega e, sendo assim, o mundo é propulsor da vida em si mesmo e eu deitei na relva porque era bom – o sangue de Eva derramou-se mais uma vez sobre o meu corpo cálido que agora eu não era apenas um corpo – era a integração, Sê Mulher, disse o Anjo Torto sem sorriso e sem placidez mas sim solenemente como o rufar de tambores – a qualidade mulher é ser Mulher – então eu me entreguei ao Pastor porque havia o amor e o prazer e eram criação do Deus – pois Ele viu que era bom;

tendo acontecido tais coisas foi então que me entreguei aos prostíbulos – e eu vi que era bom; Sê Mulher, mas não fora o Anjo, agora me era porque me sou então eu fui – mas um dia apareceu em meu quarto um homem humilde e magro e tinha os pés sujos e as mãos sujos mas seus olhos refulgiam como a nascente de um rio e seus olhos eram vermelhos como as frutas doces no pomar – e ele me disse, Eu sou André e vim aqui para que me ensines o fruto da vida, e assim foi – tendo passado a noite o homem humilde deitou-se em minha cama e ele disse que era bom –

passado outro dia a noite chegara como um ladrão e também um homem não tão humilde e vi que ele era o cobrador de impostos da cidade e me disse, meu nome é Levi e vim aqui para que me ensines o mapa do desejo,

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

xiiii penicou

À Pri Oliveira, a quem deu muitas saudades.

Faz tanto tempo que não chove. Hoje choveu.
Larguei o paletó sobre o sofá. Fechei as cortinas. Apaguei a luz.
Minha Senhora, o rádio vem falhando há alguns dias ch ch ch ch ch ch
mas acho que é a tempestade que vem se anunciando com as nuvens
cinzentinhas; restos do meu cigarro.
Lembra daquela vez? Você me disse:
- Há tantas coisas não ditas... palavras soltas no ar...
Eu não respondi. Fiz-me de entendido.
"Besteira".
Senhorinha!
Estava tão certa! Tap! dou um tapinha na minha testa... às vezes a gente prefere
comer de garfo e faca - e por que não comer com a mão?
Senhora,
não ligue!
Acho que bebi demais...
Você se curvou sobre o escuro mas seus olhos ainda estavam em pé:
- No mínimo perdidas entre os olhos fundos profundos...
Coloquei meus óculos escuros. Minhas olheiras eram roxas demais -
esqueci de regar o canteiro de violetas;
Um realejo tocava lá fora - lembra Senhorinha? - e você disse:
- Não me leve a mal, são doces. Só não sabem lidar com o açúcar.
Sim senhora.
De tanto que é doce que perdi o ponto.
E agora? xiiii penicou.
Só me resta remendar às minhas calças rasgadas...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Palavra.

Eu tenho um nó na garganta.
Preso à língua, rente ao céu da boca,
algo tão úmido e seco, azulzinhamente
cortando o oco silêncio
da minha mudez.

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