domingo, 25 de julho de 2010

Domingo.

Esse domingo está alto, grande, redondo. É noite - e através do vitral da cúpula desse silêncio eu vejo a lua tão mais branca quanto esse domingo atravessando a maresia das horas que se afloram roxas em seus vasos.
Eu não acredito em santos, não Senhor.
Um órgão me dá cores neutras - enquanto um véu esmaecido vai me cobrindo de corpo inteiro.
Não chove.
Mas Algo me cobre com o Teu Sangue.

Amém.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Bilhete

Para Cássio Lopes Machado.

Eu gostaria de dizer algumas palavras, escrever canções, te falar coisas... talvez rabiscar um coração; deixar debaixo da sua porta uma carta – a minha caligrafia incerta escorrendo no papel em palavras desavisadas sobre suspiros e espantos. Recolher uma estrela do céu e plantá-la ao meu peito, e então chamá-la pelo seu nome.

Eu queria tanto encostar meu coração ao seu num abraço apertado; segurar um suspiro em meus lábios para soprá-lo de leve aos seus ouvidos para dizer: és tu.

Eu que junto todas as pétalas das flores que você me deixa no caminho – só para colher o aroma da sua lembrança. Por que estas palavras tão precipitadas?

É que quando a noite vem, carregando consigo a escuridão, você me recolhe em seu braço e vai me dizendo coisas e coisas e coisas... coisas que é difícil transmitir em palavras... por isso, fecho meus olhos e prendo você aos meus sonhos, no meu coração desassossegado... você assopra a flama do dia enquanto me vigia à noite... mas eu quero mais um abraço, só para recolher o seu calor,

enquanto vou desenhando sua imagem nestas palavras,

que quero deixar debaixo da sua janela.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Da Música.

Para a música, nada se perde nem se cria mas tudo se transforma. Eu sei disso. Pois as cinzas de minhas lágrimas deslizam até as minhas mãos em suaves apergios; a harmonia da música vai eriçando lentamente meus nervos, envolvendo meu corpo, e minha dor vai ficando nostálgica, desfragmentada como uma melodia sincopada, o coração pulsando arritimicamente... até restar em meu peito a mais tenra alegria.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Prêmio Dardos & Prêmio Sunshine

Hoje eu fiquei muito feliz quando abri meu blog e vi, no comentário do meu último post, a indicação dos selos - e como eu poderia agradecer a minha Jéssica pelo reconhecimento? A gratidão é tão grande que eu me sufoco entre as palavras, a emoção e a saudade... tudo se confluindo no mesmo rio... Muito obrigado mesmo Jéh, e você não sabe o quando estes selos me fizeram bem! =]

Eis aqui os selos:





Antes, vou colocar uns itens:

Prêmio Dardos
1. Colocar a imagem do selo no blog; 2. Linkar o blog que nos indicou; 3. Indicar mais 5, 10, 15 ou 30 blogs ao prêmio; 4. Comentar no blog dos indicados sobre essa postagem.
Selo Sunshine
1. Linkar o blog que te premiou. 2. Falar das regrinhas. 3. E indicar os próximos ganhadores.

Bem, infelizmente eu não tenho muito blogs que eu possa indicar... =/ Por enquanto, eu só posso indicar um:

Pela sua incrível sensibilidade, fazendo com que a cada momento que eu leia um dos seus aforismos ou poemas, eu me transporte para um mundo mágico, quase doce, quase melâncólico... como a infância que eu nunca tive. Como a asa macia de um passarinho... a Priscila merece esse prêmio! =]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fabulazinha.

Para Pri Oliveira.

Era uma vez, meu bem,
era uma vez...
... ainda no tempo do rei,
era uma vez, nas altas torres
do castelo,
era uma vez
um pássaro, meu Deus!

domingo, 11 de julho de 2010

Poeminha Piegas Para Uma Janela.

Para Jéssica Lima de Almeida.

Eu suspiro, porque ainda
é dia.
A cortina inflando-se
no vazio,
na solidão;
esparramando a poeira
pelo silêncio.
O vento ventando as folhas
mortas das antigas árvores;
o vento fugindo através
do mosaico da
janela,
carregando consigo
as minhas lágrimas que
eu ainda não chorei;
feita das palavras
que eu nunca te falei.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Maçã Verde

A lua vai desenhando no chão um vitral pálido através das folhas e dos galhos da grande árvore do jardim que recorta o céu da noite em indivisíveis cacos de sombras e estrelas. Enquanto o silêncio vai atravessando lentamente cada canto da escuridão entre as casas vizinhas que se casam com a penumbra de quem dorme. Mas o silêncio às vezes vibra pelos grilos grilando agudamente. Porém a paz é quase inabalável, um lago transparente tremulando pela brisa que vem das árvores.
"O amor...", riscava Eduardo, "... não é o fim das coisas; amor é nascimento." Parou de escrever; por um instante olhou para o próprio escuro que o cercava. Não, nada de romantismo, pensou. "Amor é reintegração. Fundir-se ao silêncio", ajeitou um livro desarrumado, "... fuga cromática de Bach." Dá um longo bocejo, larga a caneta na escrivaninha. Já está sem interesse. Olha pela janela e percebe que a lua afunda cada vez mais na neblina branca que recobre a escuridão e então percebe que a madrugada avança. Cansado, um pouco triste também (mas sem romantismo), joga-se na cama. E de repente, a sensação de que todos os seus nervos desprendem-se do seu corpo.
Clarissa era um mistério. Uma nódoa mal feita, talvez. Ela era de repente assim: uma estrela quente e brilhante que fugazmente se apaga morna - e não se vê mais nada. A noite...
- A noite está tão linda... tá vendo aquela estrela?
- Qual?
- Aquela ali!, Eduardo aponta com o dedo, - que parece mais um vaga-lume...
- Não vejo..., diz Clarissa distraidamente.
- Nem eu quase a vejo - Eduardo suspira - ela está fugindo... você está linda, Clarissa!
Ela inclina a cabeça enquanto põe o brinco. Não ri.
- Não fuja, meu bem..., suplicou Eduardo.
- Mas eu estou aqui!
- Não! não fuja...
- Jamais..., mas ela estava quase desértica, planando em outros campos.
- Às vezes você prende o silêncio nos lábios... como uma rosa...
- Estou mas é cansada!
Ela fecha os olhos. Respira.
- Clarissa... eu te amo...
- Qual perfume?, ela agita na mão dois frascos de colônias.
- Aquele de Maçã Verde..., interrompe-se. A lua parecia agitar os cabelos de Clarissa, assim como o vento agita as rosas no jardim. - De qual tragédia grega você fugiu, amor?
Clarissa ri. Um riso cheio de malícia.
- De tragédia, querido... já basta a minha própria vida...
O vento lá fora bradou forte e repentinamente invadiu o quarto, trazendo consigo folhas de árvore. Um cheiro de terra úmida misturou-se ao perfume de Clarissa. Uma pétala de rosa prendeu-se aos cílios de Clarissa.
- ... creio que as grandes tragédias estão nos detalhes - enquanto falava, tirava a pétala dos cílios - uma palavra qualquer e de repente tudo pode transformar-se num drama...
A cortina se estufou pelo vento. Na varanda, as folhas secas eram arrastadas no chão. Eduardo parecia flutuar, uma água suave deslizava pelo seu corpo. "Fundir-se ao silêncio: fuga cromática de Bach." As palavras que à pouco escrevera, agora tomavam formas e cores. De dentro da penumbra, uma mão delicada e sensível dedilhava no piano acordes eriçantes. Aos poucos, os sonhos que permaneciam escondidos na sombras eram embalados pelos arpejos que se sucediam como passos lentos de uma corsa. Uma faca fria encostando-se repentinamente no seu coração quente. Eduardo levantou-se, ri baixinho, um pouco excitado. Vai caminhando lentamente, guiado por um fio invisível que se prende ao seu corpo e embala-o como uma criança... as estrelas espiam através das janelas. Aproxima-se cada vez mais do piano insone...
Pequenas borboletas de asas brancas e macias vão desenhando incríveis arabescos no ar, enquanto duas mãos vão se agitando nas teclas do piano como sonâmbulos... havia na sala apenas o clarão da lua como testemunha...
- É Bach..., lançou Eduardo.
O último acorde do piano foi se perdendo até que o silêncio partiu-se em mil pedaços. As borboletas ainda brincavam no ar.
Os olhos de Clarissa voltaram-se para Eduardo e seus olhos deslizaram-se para o fundo dos de Clarissa.
- Ré menor., insistiu ele mais uma vez.
- São apenas lágrimas, meu bem..., a voz de Clarissa era uma luz apagada.
- Mas...
- Não, Eduardo... você não compreende...
Clarissa voltou-se ao piano e novamente pôs-se a tocar. Seus dedos eram plumas, asas de um pássaro ferido... enquanto Eduardo era arrastado para fora da sala, carregado por uma fria escuridão, cada vez mais sem entender pois ele nunca entendia as coisas - sabia que havia Bach... -, e era apartado para uma terra-sem-homens por águas estranhas uma maré mansa trazia consigo um passado jamais vivído - as gaivotas eram retratos mudos...
- Escute essa fuga..., disse Clarissa enquanto desenrolava um tema em suas mãos...
- Ontem de manhã, quando eu vi...
- Shiiiiiuu!, interrompeu Clarissa - Só ouça...
... mas ele já não escutava mais nada pois cada vez mais que deixava-se envolver pela música mais ele ensurdecia... cada nota musical que soava era como um fio que se prendia ao seu corpo imobilizando-o na noite; tanta coisa a dizer mas uma flecha atingira-o no peito e o mistério era uma mão fria que apertava seu coração; talvez tudo não passasse de um desmaio sem desfalecimento... até que num lampejo ofuscante ele não pensava em mais nada... um cheiro de maçãs verdes inundou frescas o luar... não pensava em nada... não pen-sar em nada... mas tanto o que dizer!... mas só música... mú-si-ca!...
- Acho... que não quero mais te ver!, disse Clarissa interrompendo abruptamente a fuga. Ela inclinou a cabeça mansamente, um pouco sonhadora, os lábios vermelhos... um silêncio desabrochou como uma flor noturna...
- Mas ontem de manhã, Clarissa...
- Não, Eduardo. Você não entendeu..., ela levantou-se. O xale de seda que vestia foi escorregando lascivamente pelo seu corpo. As pequenas borboletas aos poucos foram se prendendo ao cabelo de Clarissa, deixando rastros prateados no ar; formaram uma tiara branca, macia... Clarissa encarou Eduardo, mas ele só via música...
- Você nunca irá compreender, Eduardo! Nunca entende...
- Mas é tanta coisa... - o dedo de Clarissa selou os lábios de Eduardo.
- Eu não quero nada, Eduardo! Ouça...
As árvores estalando, os sapos coaxando, as estrelas brilhantes tão longe como um sonho... a languidez do tempo se arrastando...
- Tudo não parece um sonho?
Ela beija a testa de Eduardo. Ele fecha os olhos. Maças verdes. "... tudo não parece um sonho?...", sentiu o peso da ausência se fazendo presente, a solidão se abatendo no coração cada vez mais...
A cortina se inflou. A lua se aprofundava cada vez mais na noite. Eduardo abriu os olhos e todo o quarto repousava. Clarissa... era um fantasma rasgando uma multidão que dorme... um labirinto emaranhando-se no sofrimento. Mas o cheiro de Maçãs Verdes esparramando-se pelo clarão do luar... Eduardo inclinou-se na cama... uma pequena borboleta branca pousou em seu braço... até que o vento a carregou para fora do quarto... então Eduardo deitou-se novamente, fechou os olhos... as águas de um rio seguia seu curso len... ta... men... te...

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