quinta-feira, 18 de março de 2010

Tempos Modernos.

Não posso dizer que tenho vergonha das pessoas de hoje, dos anos que atravesso acelaradamente - a vida mais se parece com um ruído, pois o tempo se encurtou e a morte está ficando cada vez mais próxima. Mas as pessoas, hoje, de minha vaga idade de adolescente fragmentado, macerado pela minha própria pobreza diante da grandeza de um mundo que me assusta - e que me repele - estão ficando, de algum modo, previsíveis. Cansativas. Fáceis.
As pessoas são uma farsa. Protagonizão uma vida que não são suas, ficam à mercê do tempo. Mas a finalidade é única: se esconder através de máscaras superficiais por não quererem ver a realidade. A mentira vale mais que a verdade. A indiferença é redentora. Ser politicamente incorreto está em moda.
E é fácil ser um rebelde incompreendido: compre uma chapinha, use calças apertadas, tênis coloridos. Chore por qualquer coisa - até por coisas na qual você jamais choraria. Ou então: mate seus pais, roube, ponha fogo num andarilho.
Mas ao ver, tudo se resume a solidão. A incompreensão.
Ao medo de se aceitar. E as pessoas se lubridiam facilmente com a ideia de que, seguindo pela via mais fácil, se rebelando contra alguma coisa até mesmo maior, seria o caminho mais fácil.
Esquecer-se de si mesmo é esquecer da luta - que é viver.
Mas acho que as horas desses tempos tão cinzentos da modernidade têm nos ocupados de sermos indiferentes a nós mesmos. Aos outros. Tornamo-nos uma mancha, apenas. E sorrimos sempre do mesmo sorriso postiço no qual vibramos a nossa derrota.
São estes os nossos tempos modernos.

O Homem.

A noite escura era cortada pela lua crescente que, no alto do céu, diluía o silêncio do homem no vazio. Os sinos badalavam longínquos, solenes e ocos. E o seu maior terror era esse: a de ser apenas um homem numa noite vazia, numa escuridão que já não era mais sua; abandonado entre um vasto mundo sem dimensões, ele se reduziria ao ponto máximo de solidão, um corpo sem circunferência que, derramado no mistério da noite sem estrelas. Ele estava abandonado, contemplando a si mesmo através de um olhar incompreendido – uma suave brisa noturna de verão que o envolvia como um manto refrescante.

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