quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ceci n'est pas une pipe.

É, sim! - Uma travessia extremamente arriscada. É possível observar os corpos se retorcendo em equilíbrio, as mãos se agitando no ar, o rosto suado - difícil se manter parado, com os olhos cegos, sentindo os pés nus vacilarem a meio fio; pois, eles poderiam levantar suas mãos e então voar, alçar voo para terras não descritas pelos marujos que se perderam há milhares de anos por mares inexistentes; ah sim! - aqueles homens, de braços bronzeados - estes dai só sabem mesmo é fingir!
- Vamos rumo ao sul! - grita o comandante.
Mas a espada não está afiada a ponto de que todos os tripulantes perfurem em fúria a rosa dos ventos; enquanto o sol vai chovendo sobre as cabeças, as águas do mar se mordem em espumas...
... mas, por um instante, ele para na praça pública e observa a grande estátua emergir ao centro, com o escuro da noite se espargindo em todos os cantos; a estátua também é pública enquanto todos os olhos a tocarem em seus cílios de barata velha; ele se aproxima com dificuldade, sentindo que a sua respiração era extremamente dificultada por aquela acidez de gengibre que roça toda a boca; as sinuosidades, os traços incertos, tudo parecia um terrível engano; a estátua era apenas cega;
mas ele jamais poderia fazer algo enquanto visse o carro partindo, enquanto o asfalto sustentasse aquela leveza com que o pneu do automóvel sibilava aquela canção acinzentada; cada vez mais tudo se tornava tão distante, ele observava aquele cabelo cheirando a amêndoa partindo para algo que nunca lhe pertenceria  - sim, com modo ele deveria se entregar a eternidade? Pois, ele nunca possuiría aquela coisa mole que lhe escorregava dos dedos e que era tão transparente que enxergava os próprios pés encardidos... é assim que ele jamais viveria, pois,
um dia, vivendo de extremos riscos, ele caiu para o Nada quando o fio que o sustentava se partiu; foi assim que seu barco naufragou quando a primeira onda lhe abateu; a estátua lhe enfiou uma espada no seu estômago; o carro despencou no horizonte;
o que seria daquele homem, meu Deus?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores