terça-feira, 26 de julho de 2011

Passeio.

Eu não tive coragem de abrir os olhos. Quando eu vi a ponta do horizonte respirando escuridão, eu percebi que o mundo era imenso. As árvores altas cobriam o sol – e o vento era tão macio como as noites frias de Outono. Era Outono.

- Não tenha medo – ele me disse com uma voz doce.

Mas eu não respondi. Porque eu também estava com medo dele. Porém, ele se sentou e senti suas mãos pesadas se prendendo à minha cintura.

- Vamos lá?

Eu fiz que sim com a cabeça. Cheio de medo e espanto. Mas eu podia ver um vitral se formar no escuro das minhas pálpebras. E, de repente, era como se deixássemos cair no centro do turbilhão de uma tempestade. O vento era frio e embalava o meu corpo. Mas nos meus olhos, aquele vitral... o sol se refletindo e as folhas das árvores contornando-se em sombras diante do meu medo. Então eu senti a mão dele acariciando levemente os meus cachos. Estiquei as pernas e o vento parecia se quebrar na ponta do meu pé. E tudo ficou imensamente veloz, e a realidade parecia se dissolver num sonho que fugira da madrugada e agora invadia as silhuetas das altas árvores e se espargia no asfalto cinzento. Mais uma vez ele se agarrou à minha cintura e então me senti mais seguro.

Até que tudo foi ficando mais leve. Tudo deixava de rodopiar e voltava ao seu lugar... o sonho finalmente cedeu o seu lugar à realidade. Mas eu estava de olhos fechados. Não queria apagar a sombra das folhas que margeavam a minha escuridão. Quando abri os olhos, o sol estava pálido. No meu cílio, estava presa uma pequena folha seca. E meu corpo pareceu de dissolver em delírio...

- E então, filho?, perguntou meu pai encostando a bicicleta no salgueiro.

Aquele homem tão imponente me encarava. Sorria. E percebi que ele me amava. E, tendo recebido seu amor, eu queria ser amado novamente.

- Podemos fazer mais uma vez?

(26 de Julho de 2011).

*Desenho: Pedro Takahashi.

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