Alô companheiro! Alô, diz
a voz,
eu não sei sorrir;
fecham-se as cortinas do palco e
fico mudo entre os atos
que precedem o próximo gesto
o instante futuro que passa é passado
vazio e mudo
entre notas ásperas de um piano desafinado que
desatina nas mágoas ponteadas das minhas
feridas rasgadas
violentadas, minha voz
esmorecida
se perdeu em algum canto
minhas palavras empobrecidas
deixei no meu canto
mudo pranto
foi-se companheiro
as terras vazias,
eu grito
G-R-I-TO:
AI DE MIM O QUE SOU DE MIM? SOU O QUE NÃO SABE O QUE SE PODERIA
VERBO TO-BE
CLAMA-SE POR ÁGUA E FOGO
O que sei eu disso?
olho através da janela
através da janela olho
a pedra, o nunca, o tudo,
você me diz:
És.
Eu sou?
Tu me foges!
Isso eu chamo de silêncio;
desligo o telefone, vou até o regato e fico apenas olhando
apenas olhando fica o regato a olhar-me
nunca fui a igreja
eu não sei como se reza o pai nosso,
Ave Verum Corpus
eu nunca vi Deus
deusinho deusinho
Vinde a mim porque humanizo-te e choro
as pragas vil dos milagres que eu nunca recebi;
sou pobre, meu cash está no zero,
nunca matei alguém
mas já chorei no dia de todos os Santos;
ontem,
preciso te relatar,
foi dia de Finados – soltem as pombas!!!
A PAZ ESTÁ MORTA!
MORTA???
DEUS, CLAMO TEU NOME E TUA VOZ ME CAI COMO UM RAIO!
AS TROMBETAS DO CÉU
ecoam,
ontem foi dia de Finados e por isso mesmo escrevo está ode
pois eu
humanizado
esqueço o que é morte:
será a morte um grande Nada?
DEUS TU ÉS O NADA?
O TUDO E O NADA.
Integrai-me
pois não sei como morrer.
Ontem foi dia de Finados e
finei os meus sonhos perdidos
antigos e vastos;
vasto vasto mundo
que tanto chorei sem deslumbrar
a vitória daqueles que emudecram
edificai – Senhor – edificai
UM DIA MORRE-SE
MORREREI MORREREI MORREREI
MORREREI MORREREI MORREREI
MORREREI MORREREI MORREREI
MORREREI MORREREI MORREREI
MORREREI MORREREI MORREREI
MORRE-SE MORR-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE
MORRE-SE MORR-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE
MORRE-SE MORR-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE
MORRE-SE MORR-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE MORRE-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
MATA-SE MATA-SE MATA-SE
Na janela do meu quarto
eu vejo da janela do meu quarto
o tempo e o vento
que se carregam nos rostos anônimos que tomam
Coca-Cola e comem chocolate no grande vazio
da praça;
mas eu vejo uma multidão que se levanta
das sombras que se repousam no pôr-do-sol;
gritadas a multidão palavras mutilam o sol que se esconde
entre as montanhas
equidistantes estúpidas e silenciosas
remotas saudosas...
queimam-se as cruzes dos meus sonhos
em desalento
gritam-se:
LEVANTEM A BANDEIRA NO MASTRO – MAS O GRITO É SEM GLÓRIA,
IMPÁVIDO
LÍVIDO COMO A COR DA SOLIDÃO
QUE SE PARTE EM MIL FLECHAS...
Povo
levantem suas lamparinas, bradei
e corri todos os montes
e todos os prados
e campos
os pássaros em bandos cruzaram o céu silencioso descortinados nos descampados
[e eu não vi, emudeço.
Partido o espelho em mil cacos perdi a minha face
irrefletida,
desmancharam as cores restos de faces minhas desmiradas multifacetadas se encontra
em escuros perdidos vazios escos gravíssimos
afino o desafinado silêncio dos finados
que se suspendem temerosos e trêmulos;
som da morte que soa
sincopado;
uma adaga peguei do seu cetro a cor rubra do sangue escarlate
que roubei a vida peregrina que das sombras que rondam meus sonhos
e desfiro um corte fundo
profundo
um suspiro
o sangue esguicha e vaza pela alucinação
desvairada
doida varrida
dos meus pulsos flamejantes
quero sofrer
quero me ser
quero sentir
o pulsar do MUNDO
como um TOLO
tingir a camisa de LODO
QUE A VIDA CAIA SOBRE MIM.
A multidão avançava em prantos
eu quero afinar esse mundo
numa canção sem palavras,
enquanto eu digo aqui da janela do meu quarto o âmago que me prende
e que me solta eu ganho asas e voo livre para os seus braços;
eu passava na rua ladrilhada por lantejoulas escarlates
(estrelas, meu bem, pareceram cair do céu para iluminar
o meu canto
mas me canto não existe...)
(minha melodia é um assobio sem ritmo e eu só sei cantar
através de um sopro
o primeiro e último suspiro
que atravessaram bilhões e bilhões anos-luz
quantas estrelas me espiam?)
e uma moça cantou assim preste a atenção:
“O surdo ouviu
o mudo dizer
que o cego viu
o aleijado correr”
Corre meu bem enquanto ainda é tempo!
corre enquanto ainda é primavera e o tempo é de morangos!
corre
prepara uma torta
receba os pássaros;
abra a tua janela para eu poder te ver
mais de perto.
Jamais eu poderei gritar o que
vi:
vede:
a luz!;
os olhos fartos eu fecho é preciso ouvir
um pouco o que se sopra entre a relva seca
e morta;
pensando eu estou muito em morte?
parafraseio o que sente no ritmo do peito
a víbora serpenteia meu corpo em espinhos
doce espinho
que me fere e me tange
eu não sei amar
nunca amei
serei uma dia amado?
esqueci o que sou do outro lado
dos meus sonhos;
apago a luz porque a luz me cansa
eu me canso de mim porque
eu não sei o que fazer.
Aleluia!
Abrem-se as porta:
eu sei que quero amar
gritar o meu cântico de amor
para aquilo que me ama!
quero morrer para saber que então
finalmente
poderei me integrar
à sua mágica de ser
quero perder a voz
frêmita
e sentir teu corpo nu
roçar sobre o meu
eu sou a terra
te respiro toda meu bem
uma garoa
fria e fina
pinga e respinga
no véu transparente
da janela
do meu quarto
quero ir até
a margem dos meus sonhos
e te roubar para andar comigo
de mãos dadas
e sermos um!
VENHA DEUS PORQUE EU SEI QUE TU ME ÉS
ENTÃO POSSO ME SER
FINALMENTE
PORQUE TE AMO.
Eu sei que a morte vem; vem? sim,
através das horas que se sucedem na ponta do ponteiro do relógio
há um estalo rude e seco:
a morte vem.
Vamos cantar em coro meu bem?
EU QUERO A VIDA AMAR-TE-EI SEMPRE SENTIR O TEU CORPO QUENTE
DE VIDA DE VIDA DE VIDA
SAUDOSO MORENO MOROSO
EU QUERO ABRAÇAR-TE
ROÇAR-TE
BEIJAR-TE
teus cabelos esvoaçam no campo
os lírios balouçam em nosso jardim;
vamos pegar o próximo bonde!
DEUS VINDE A MIM POIS CANTO A VIDA
A GLÓRIA DE SER-ME E DE TE AMAR
SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
FAÇO O ANTIGO RITUAL TRIBUAL
ofereçam-se os sacrifícios!
UNIR-VOS
A SEDE ME CONSOME!
O que sou?
És o que jamais serás!
O que serei?
Serás o futuro!
O que é o futuro?
Invenção a mil vozes!
Paixão Segundo a Nossa Própria Morte!
Amem.
Amem.
(apaguem-se as velas,
vamos dormir em paz).
Dona Nobis Pacem.
Phew! That was passionate!
ResponderExcluirI came here because I am collecting Peaceglobes for Dona Nobis Pacem day of peace (or Blogblast for Peace) and your blog came up in the search because of the last line...but I am glad it did...this poem is very powerful!
Have a peaceful day!