sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ausência

Mas era inútil sua espera. Da janela, ele observava atento o inanimado – pacientemente, sem aflição. Do interior da casa, somente o ruído do silêncio desprendendo-se das sombras. E seus olhos procuravam ultrapassar o profundo da escuridão impassível que rondava a realidade e ele apenas assistia. Enquanto uma chuva se estendia pela noite...

Moveu levemente a cabeça dormente como um pássaro de asa ferida. Num átimo, um raio rompeu a escuridão.

O tempo atravessava ruidosamente no lânguido canto de um pássaro perdido na noite, as lembranças que emergiam das profundezas da escuridão; uma roda-viva rodopiando como um carrossel antigo, uma melodia perdida no tempo. Águas escuras e densas emanando de um manancial misterioso, oculto na solitária caverna que é o passado – e ele, de olhos fechados, assistindo a areia fina das suas lembranças antigas dissolvendo-se na eternidade através do vento que se erguia translúcido no céu límpido, sem o canto dos pássaros. Sem as nuvens fazendo mistério que, como as ovelhas, se perdem distantes do rebanho. Nem mesmo a chuva para confundir suas lágrimas. Porém, a chama de uma vela ainda agita-se hesitante no fundo de sua escuridão. Mas, quando ela partiu, deu um último sopro e sua sombra se apagou. Ela atravessou o portão, seu vestido esvoaçando... e o tempo emudecera-o através de suas lágrimas.

Alguma coisa moveu-se do lado de fora da casa, no jardim. As rosas se arcaram em reverência. A esperança renasceu quando ele aspirou a fragrância quase azul de uma flor que ele bem conhecia. A lembrança. Sentiu que alguém lhe espiava mas era somente a ausência que se fazia presente.

Um comentário:

  1. Que lindo Lê!!! Amei!!!Vc é realmente um excelente escritor!!!

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