terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

No ônibus

O sol refletia quente através da janela do ônibus que trepidava pelo asfalto. Andar de ônibus é um típico momento que a gente esquece facilmente, onde afundamos nos próprios pensamentos e de repente, a hora fica nua, o sol da cor a vida. São momentos raros.
Como quando eu VI bem de perto um senhorzinho muito simpático sentado num assento próximo ao meu. Olhei-o tão perto de mim que parecia que seu rosto flácido afundava nas cavidades do meu silêncio. E que seus olhos miúdos - de tão miúdos e enviesados - atravessam a força sombria dos meus.
É que facilmente me esqueço que os dias passam, que os anos passam, que meus dias se vão... vou deixando através do tempo uma trilha de poeira brilhante onde, uma dia, o vento virá - e minha trilha tornará-se uma vaga lembrança. Até que nunca mais.
Nunca pensamos.
Mas um senhorzinho como aquele carrega atrás de si anos... anos...
... mesmo na sua simplicidade e na sua fragilidade - um dia ele fora um homem forte e saudável. Um dia ele apenas vivia, colhendo os frutos de sua juventude. Conheçeu pessoas, atravessou caminhos, seu coração palpitara sempre mais forte, como um grito. Amou e fora amado.
Olhavam-no com respeito, sempre desviando os olhares dos seus por serem os mais fortes. Sempre lhe confiaram a coragem que da natureza de homem e de seus mistérios emanava...
... até que se passaram os anos e aos poucos ele se recolheu para dentro de si, seus olhos se fecharam, o corpo murcho...
Hoje ele apenas vive...
... eu o vejo. Tento adivinhar o seu passado.
E de repente estamos tão próximos que estou pronto para morrer.

Um comentário:

  1. Nossa que show!!! Muito linda!!!Essa crônica é uma das que eu mais gostei!!!

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