quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ele fixara seus olhos que esgazeavam no espaço vazio da eternidade em momentos nus escorrendo pelo relógio sibilante como o vento correndo pela campina. Passos delicados soando entre o céu impetuosamente esmaecido e, no entanto eu o via em seu mais absoluto silêncio dentro de um próprio silêncio cru que pingos prateados dos segundos tombavam vagarosamente entre um instante e outro. Era o estado mais profundo da realidade em que podia se encontrar, talvez. Porém, eu o olhava atento, como se nele houvesse a verdade escondida atrás de suas expressões faciais sérias, naqueles olhos levemente amendoados estrábicos oblíquos que se dissolviam através de um centro sólido e invisível – ai meu Pai! – e eu devo dizer o quê afinal?

Levantei meu olhar timidamente, escondendo a minha ousadia de ter a coragem de ao menos imagina-lo – deduzi-lo: em que pensa afinal? – e também de vigiá-lo em seu momento próprio – a testa enrugada, os olhos castanhamente vazios, ai de mim meu Pai! De través, olhei-o. Ah eu que preciso tanto de você, por favor, não me abandone. Ah eu tão frágil que sou que preciso urgentemente de sua mão agora, por favor, não me abandone nunca... – e com uma das mãos, ele brincava com a caneta. O rosto pálido, a boca seca. O coração palpitando ferozmente, quase-quase sempre no limiar, a porta da saída aberta na escuridão e ele quase-quase, meu Deus! Dá-me a tua mão porque preciso dela. No que pensa afinal? Talvez na noite de estrelas pálidas alinhando-se no gélido céu noturno. Em horas simplesmente vagas. Por que tão inconquistável como a bandeira no alto de um mastro? Ai meu Deus, que ele nunca me abandone...

No final, com as minhas mãos eu seguro a tua. Olho fixamente naqueles olhos nus e cansados, pálidos e aflitos. Que espécie de alegria era aquela?

Fui embora pensando em céu e terra. Noite e estrelas.

A vaguidão de Deus.

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