quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Primeira Carta a Joaquim

(Assim. Assim. Bem: 30 de Janeiro).

Meu grande amigo Joaquim:

Há quanto tempo não nos vemos hein? Por que não apareceu mais? Tem mesmo até fugido dos meus pensamentos – só agora – nesse momento em que escrevo – te resgato lá do fundo de mim mesmo. (Sim, lá daquele fundo bem fino que é o da imaginação. Respiro profundamente: é a minha inspiração, Joaquim!). Pois bem, pois bem. Mas agora, colocando os meus pensamentos em ordem, crio teu corpo, teus braços, teu rosto. Mas por que essa barba tão longa hein, Joaquim? Assim, quero te pontuar em vida. Ponto.

Bem Joaquim, já que há tempos que não me escreve – e nem eu te escrevo – então é hora de colocarmos a conversa em dia. Então. Mas sinceramente, não tenho o que te contar – aliás, não sei por que te escrevo. E por que tenho a nítida (quase até visual) impressão de que tenho muito que falar? Bem, bem, bem... tentarei alguma coisa. Devo dizer que aqui não chove. Mas por que alguma coisa estaca tão dura e cortante dentro de mim? Até parece chuva... então eu devo-lhe dizer que do lado de fora está tudo bem. Do lado de dentro (me refiro ao meu lado de dentro) está chovendo. Mas é uma chuva calminha meu amigo – por favor, quando vier me visitar não tenho medo, sei que ela logo passa. Sei, você deve estar se perguntando, desde quando chove? Respondo: não sei. Há algum tempo estou fora de mim, ausente, numa espécie de viagem. Mas viagem mesmo não é – está mais para passeio. É que, Joaquim, eu estou tão cansado! A solidão às vezes é tão forte e densa como uma onda e que simplesmente me derruba como pessoa. Eu fico tão miudinho... – sabe, o que eu preciso mesmo é da sua mão amiga. Por isso, agora nesse final triste de tarde, eu invento a sua mão e me agarro com desespero a ela. Meu último subterfúgio. Para não cair inteiramente no abismo em que me encontro. Ah Joaquim, sinto sua falta! Por que não vem logo? As coisas ficam mais difíceis por palavras.

Choveu agora há pouco. Horário de verão, é quase oito da noite. E olha que lindo: o sol se pondo! As nuvens tão grossas encimando o ar, mas o sol... e tudo está coberto pelo tênue esgarçar laranja do pôr do sol. Pois é meu caro Joaquim, e eu aqui inquieto. Agora, o arco-íris. Se quiser, pode rir de mim. Eu não ligo, mas eu quero isso: eu quero o segredo do fim do arco-íris desmanchando-se em lágrimas das sete cores para que eu pinte um quadro tão real que ninguém acreditará vendo com esses olhos tão humanos. Será preciso sonhar para vê-lo. Não ria. Assim como agora onde em mim eu sinto as vibrações de cores fortes. Quero pintar em palavras a cor do vermelho misturando-se ao roxo num grito de desespero como um animal se debatendo em agonia. Estou sendo mal? Ou somente insensível? Como posso sentir dentro de mim essas coisas tão agudas e ásperas pingando de cima pra baixo as cores que apelam por vida? Pois é Joaquim, veja o quanto estou sofrendo... e ainda seguro firmemente na sua mão tão imaginária quanto ao isso que te escrevo. Não solte, continue a me segurar em amparo porque eu estou só e preciso de sua mão. E seu me virar de ponta cabeça, a coisa vai pingar de baixo pra cima!

Joaquim. Eu sei, nesse momento em que te escrevo eu estou um pouco triste – as minhas lágrimas se escondem atrás de minhas pálpebras. E eu não tenho medo e digo: eu sou feliz! (não ria.) Mas eu sei que essa minha alegria é daquela que dói quase que em tristeza. Mas é assim. Devo sorrir agora? Afinal, Joaquim, você é feliz? Desconheço sua felicidade. Parece até que às vezes minha felicidade é um acaso. Não fatalidade. Não aquela sensação de força planejada. Ah como eu estou sendo difícil. Não é mesmo?

Então por enquanto é isso Joaquim. Não tenho mais nada a dizer. Escrever agora foi tão bom! Sinto um alívio de um sopro. Me senti vivo. E sei que não pararei por aqui. Há tanta coisa que eu não entendo e que preciso compartilhar com alguém. Mesmo que de modo incompreensível. Mas é que as coisas são assim mesmo. Escrever agora tão subitamente teve o valor e o encanto de um mistério enevoado em cinzas. Se meu momento de insegurança é por não dizer nada, então eu quero escrever e dizer sempre. Mesmo que nem eu entenda. Sim?

Aguardo notícias suas com o coração impaciente viu Joaquim?

Um grande abraço, ao tamanho de meu amor e saudades por ti!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores